Os investidores estão convencidos de que o presidente Michel Temer ficou mais forte com a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de adiar o julgamento da chapa na qual ele foi vice de Dilma Rousseff nas eleições de 2014. Parte importante do mercado avaliava, nos dias que antecederam a votação do processo no TSE, que Temer estava acuado, o que permitiu, por exemplo, a gritaria do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) contra o governo. Na visão de analistas, Temer se sentia desconfortável diante de uma possível cassação de seu mandato. Agora, acreditam os donos do dinheiro, o TSE devolveu o poder da caneta para Temer.
A expectativa dos investidores é de que o peemedebista aproveite a janela que lhe foi aberta para avançar na reforma da Previdência. Todos os levantamentos feitos pelo governo mostram que, em meio à expectativa do que seria o julgamento do TSE, houve um crescimento importante no número de integrantes da base aliada que ficaram refratários às mudanças propostas pelo Palácio do Planalto para o sistema previdenciário. Esse movimento, porém, deve ser revertido diante da sobrevida que o presidente ganhou. Para os investidores, aumentaram as chances de ele terminar o mandato em 2018. Dono da caneta para nomeações e liberação de verbas, conseguirá reduzir significativamente no Congresso a rejeição à reforma.
Temer, inclusive, fez questão de ressaltar, nas conversas que manteve com aliados, que há um espaço expressivo para o governo agir. O Planalto já identificou onde estão os principais focos de rejeição à reforma da Previdência na base aliada e definiu as estratégias que usará, nas próximas duas semanas, para dirimir todas as dúvidas. Todos os 411 deputados que, teoricamente, apoiam o governo, foram monitorados. E o presidente acredita que a maioria deles acabará votando a favor das reformas, sobretudo porque há uma disposição clara do governo de abrir mão de alguns pontos. As contas do Planalto indicam que cerca de 80% do projeto original encaminhado ao Congresso serão mantidos. É questão de honra a definição de uma idade mínima para a aposentadoria, mesmo que ligeiramente inferior aos 65 anos definidos para homens e mulheres.
Ligado nos juros
Ao mesmo tempo em que acompanha, passo a passo, o andamento da reforma da Previdência no Legislativo, o governo está ligado nos passos que serão dados pelo Banco Central na próxima semana, em relação à taxa básica de juros (Selic). O que mais se diz nos corredores do Planalto, quando os juros entram na conversa, é que não há como o BC decepcionar. Se já havia uma quase certeza de que a Selic cairá ao menos um ponto percentual na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) dos dias 11 e 12 de abril, com a divulgação de que o BC errou nas suas projeções de inflação — os novos números mostram 3,6% para este ano e 3,3% para 2018 —, há quem já fale em queda de até 1,5 ponto.
“O BC precisa dar sua cota de contribuição neste momento. Fala tanto que a reforma da Previdência é fundamental para a queda dos juros, mas poderia acelerar o passo nos cortes da Selic, pois isso terá enorme repercussão no humor de deputados e senadores”, diz um dos assessores de Temer. Para ele, os parlamentares precisam ver que todos os atores do governo estão seguindo em uma mesma direção, cujo resultado final será a retomada do crescimento econômico. “Ninguém está botando a faca no pescoço dos diretores do BC. Mas não podemos esquecer que, ao errarem as projeções para a inflação, pesaram a mão no conservadorismo e impuseram um custo adicional à economia. Os juros poderiam ter caído mais do que os dois pontos reduzidos desde outubro do ano passado”, acrescenta.
Brasília, 06h30min