Assim como na semana passada, quando o governo admitiu não pretende mais respeitar o teto de gastos — emenda constitucional que limita o aumento das despesas à inflação –,o Tesouro Direto tem as negociações suspensas logo pela manhã. Os técnicos do Tesouro Nacional informaram que, quando há muita volatilidade nos preços dos títulos Tesouro IPCA e Tesouro Prefixado, a negociação é suspensa para “reprecificação”. Apenas os papeis indexados à taxa básica da economia (Selic), o Tesouro Selic. Mas havia títulos com dois vencimentos à venda: 2024 e 2027. As operações “já foram normalizadas”, de acordo com a assessoria do Tesouro.
Segundo o órgão os preços e as taxas dos títulos do Tesouro Direto são atualizados três vezes ao dia, “com o objetivo de refletir as negociações ao longo do dia no mercado secundário de títulos públicos federais”. “Quando há uma volatilidade significativa nos preços e nas taxas dos títulos negociados nesse mercado, a Secretaria do Tesouro Nacional suspende temporariamente as negociações no TD, para que novos preços e taxas de referência possam ser atualizados. Este procedimento impede que as negociações dos investidores no TD sejam realizadas com preços e taxas que não reflitam corretamente as condições do mercado de títulos públicos (mercado secundário)”, destacou a nota do Tesouro enviada ao Blog.
O título Tesouro Selic permaneceu disponível porque “sofre pouco os efeitos da volatilidade de mercado”. “Além disso, em caso de suspensão, como ocorreu, os investidores do programa podem realizar agendamentos para investimentos e resgates (na plataforma do programa) que serão liquidados com os preços e taxas disponibilizadas na reabertura do mercado”, acrescentou o comunicado.
De acordo com especialistas que já estão revisando novamente para cima as projeções para a inflação que ainda não inclui o novo reajuste dos combustíveis que a Petrobras aplicou a partir de hoje, a surpresa com o IPCA-15 de outubro confirmou a piora no cenário e permitiu uma leitura desafiadora para o controle da inflação, que está pressionada tanto pelos repasses em curso dos elevados custos de produção quanto pelo efeito da aceleração dos preços dos serviços.
Analistas reconhecem que, com uma pressão maior nos preços, aliada com o fim do teto de gastos forçará o Copom aumentar o ritmo de alta da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 6,25% ao ano, no segundo dia da reunião do colegiado, amanhã. Apesar de alguns apostarem em elevação de 1,25 ponto percentual, crescem as apostas para uma alta acima de 1,50 ponto percentual.
A piora nas expectativas do mercado devido à iminente deterioração do quadro fiscal por conta da sanha do governo para encontrar recursos para agradar a base governista às custas das regras fiscais é clara. Ontem, o Itaú Unibanco divulgou nova previsão prevendo queda de 0,5% no Produto Interno Bruto (PIB) de 2022.
Aliás, isso mostra bem que nem o mercado, que apoiou a eleição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com a promessa de uma política econômica liberal, não engoliu o argumento do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que, sem estourar o teto de gastos, não será possível ampliar o Bolsa Família em R$ 400 para ajudar os mais pobres. Justo ele, que é conhecido como liberal, e tem histórico de críticas aos pobres e, agora, passou a defender o calote de dívidas judiciais para aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos precatórios.
Com as mudanças feitas na comissão especial da Câmara na PEC dos Precatórios, também conhecida como a PEC das Pedaladas, o governo deverá ampliar em R$ 94,9 bilhões o espaço para o governo gastar, conforme cálculos da Instituição Fiscal Independente (IFI). Esse montante dá para cobrir, com folga, a ampliação do Bolsa Família. O que ninguém sabe é o que o governo vai fazer com a gordura, algo que até agora não foi explicado, como destacou o economista Felipe Salto, diretor executivo da IFI, em entrevista ao Blog.
Não à toa, após a tentativa de recuperação de ontem, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) iniciava o pregão com novas perdas e voltava para o patamar de 107 mil pontos. Às 11h19, o Índice Bovespa, principal indicador da B3, caia 1,25%, a 107.352 pontos; Já o dólar voltava a subir e era cotado a R$ 5,57, cotação 0,32% sobre o valor da véspera.