Certo de que sairá vitorioso no processo de impeachment de Dilma Rousseff no fim de agosto e de que o apoio popular a seu governo só tende a aumentar, o presidente interino, Michel Temer, não esconde a empolgação. Tanto que já passou a sinalizar a um grupo restrito de auxiliares a possibilidade de pavimentar uma possível candidatura à Presidência da República em 2018. Mesmo que, publicamente, o peemedebista mantenha o discurso de que não será candidato a sua própria sucessão, o sonho de estender a permanência no Palácio do Planalto cresceu muito nos últimos dias, sustentado por pesquisas mostrando que mais da metade dos eleitores o preferem no comando do país e não a petista.
A vontade de pavimentar a candidatura em 2018 é tamanha que Temer já pediu aos presidentes dos bancos públicos, mais precisamente aos comandantes do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, que apresentem estudos para um possível movimento de baixa das taxas de juros cobradas nas operações de crédito. A ordem é agradar o grande público oferecendo uma contrapartida às medidas duras que virão na área fiscal depois da aprovação do impeachment, como o aumento de impostos.
Há o entendimento, dentro do Planalto, de que a redução dos encargos cobrados por BB e Caixa pode ocorrer antes mesmo de o Banco Central começar a cortar a taxa básica de juros (Selic), de 14,25%, o que, nas expectativas do mercado, se dará a partir de outubro. A visão de Temer é de que, nos últimos anos, os bancos públicos aumentaram suas taxas muito além do arrocho promovido pelo Comitê de Política Monetária (Copom), a ponto de cobrarem encargos mais altos que as maiores instituições privadas em várias operações.
Um dos mais próximos auxiliares do presidente interino mostra várias tabelas elaboradas pelo BC para comprovar a tese do que ele define como “um certo exagero”. No cheque especial, por exemplo, o Bradesco, com juros médios de 273,42% ao ano, cobra menos do que a Caixa, com 286,12%, e o Banco do Brasil, com 286,67%. No financiamento de automóveis, as taxas do Santander (26,44% anuais) e do Itaú Unibanco (26,83%) são inferiores às da Caixa (26,84%) e às do BB (27,48%) Nessa linha, também o Bradesco (27,06%) cobra menos que o Banco do Brasil.
Populismo
A recomendação de Temer aos presidentes do BB e da Caixa e a toda a equipe econômica é para criar boas notícias. Ele garante que nada será feito de forma forçada ou precipitada, para que o governo não seja tachado de populista. Esse filme, como lembra um técnico do Ministério da Fazenda, foi visto durante boa parte da administração de Dilma e os resultados foram desastrosos. “Ninguém está falando em movimentos bruscos, sem estudos técnicos consistentes”, afirma um assessor do presidente interino. “De início, serão ajustes pontuais, apenas para indicar que as coisas estão menos ruins do que se imagina.”
Técnicos mais conservadores dizem que este não é o momento mais adequado para se tratar desse tema, sobretudo se for levado em consideração o histórico recente dos bancos públicos, que foram usados por Dilma para as pedaladas fiscais, bases para o processo de impeachment da petista. Ressaltam ainda que, em 2012, a presidente afastada deu início a uma cruzada contra os juros altos e obrigou o BC e as instituições controladas pelo Tesouro Nacional a liderarem o movimento.
O resultado, como todos sabem, foi mais inflação e uma onda sem precedentes de endividamento das famílias, que minou o consumo e o Produto Interno Bruto (PIB). Meses depois, Caixa e BB, assim como o Banco Central, foram obrigados a recompor as taxas para evitar problemas futuros. Há créditos podres daquele período que os bancos públicos carregam em seus balanços até hoje. “Portanto, entre o desejo de baixar juros e a realidade para que isso aconteça há uma grande distância”, frisa um integrante da equipe econômica. “O melhor é que os juros caiam naturalmente, o que não está longe de acontecer”, emenda.
Atropelos
O desejo de Temer de ver os juros caírem é tamanho, que ele não se furtou, nos últimos dias, de quebrar o protocolo e falar sobre o tema às vésperas da reunião do Copom, que começa hoje e termina amanhã. Em várias declarações públicas, ele assinalou que pediria à equipe econômica que tomasse medidas para reduzir o custo do dinheiro. Esse discurso ecoou no Banco Central, apesar de o comando da instituição classificar a posição do presidente interino como sem importância. Mas foi assim que começou a intervenção de Dilma no BC durante a gestão de Alexandre Tombini.
Temer é uma raposa política. Mas até os mais experientes líderes cometem erros, especialmente quando se deixam inebriar pelo desejo de poder e pelo excesso de confiança. O fato de o ambiente estar menos pesado, com boa parte dos economistas vendo o PIB saindo do fundo do poço, não significa que o governo pode acelerar os passos e atropelar o bom senso. O risco de jogar tudo pelos ares é grande.
Em vez de mirar os olhos para 2018, o peemedebista deve se fixar no presente. O Brasil vive uma das piores crises da história. Não é porque o mercado financeiro explode em otimismo, com o dólar caindo e a bolsa subindo, que todos os problemas desapareceram. Ainda há um longo caminho a ser percorrido.
A complacência dos investidores com o governo é perigosa. Bastará um sinal negativo do Congresso às propostas do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que visam o ajuste fiscal, para que o mundo desabe. E não haverá juros baixos que deem jeito.
Brasília, 06h30min