Temer e os aliados suspeitos de corrupção

Publicado em Economia

A queda de Geddel Vieira Lima da Secretária de Governo por tráfico de influência abriu uma fenda enorme na administração de Michel Temer. A demora para que o agora ex-ministro fosse defenestrado do cargo mostrou uma completa falta de habilidade por parte do presidente da República. Se já havia um sentimento de insegurança em relação à capacidade dele de conduzir o país, agora, a percepção é de que a falta de pulso é real e, pior, pode comprometer a recuperação da economia, que continua mergulhada na recessão.

 

Temer errou feio. Não só passou a mão na cabeça de um protegido que tem um histórico muito ruim, como permitiu que as denúncias contra Geddel o engolfassem por completo. Em depoimento à Polícia Federal, Marcelo Calero, ex-ministro da Cultura, afirmou que o presidente o pressionou para que atendesse a um pleito de Geddel — a liberação da construção de um prédio em uma área tombada de Salvador, no qual ele havia comprado um apartamento por R$ 2,5 milhões. Temer disse a Calero que, “na política, tem esse tipo de coisa, esse tipo de pressão”.

 

Ainda que não haja gravações comprovando o diálogo entre Temer e Calero, o certo é que as irregularidades cometidas por Geddel minaram a credibilidade do governo. Temer, que já carregava a pecha de presidente ilegítimo, acusado de golpista por parte da população, mostrou-se fraco, incapaz de extirpar, rapidamente, um tumor que estava infestando toda a sua administração. Na verdade, Temer errou desde o início ao escolher Geddel para o ministério. A ficha corrida do ex-ministro é enorme, muito conhecida no meio político.

 

Nos seis meses em que permaneceu no cargo, Geddel deu sinais claros do quanto desprezava o compromisso com o bem público. Na visão dele, o governo era seu butim, no qual prevaleciam interesses pessoais em detrimento dos anseios da coletividade. Suspeita-se que a pressão para a liberação de uma obra irregular foi a menor das irregularidades que ele cometeu no governo. Por isso, gente graúda do Palácio do Planalto não descarta que, com a crise instalada, outras denúncias venham a reverberar, ampliando o terremoto que abalou o chão de Temer.

 

Menino mimado

 

Para empresários e investidores, assim que Calero relatou a pressão que vinha sendo feita por Geddel, o presidente deveria ter demitido seu secretário de governo imediatamente. Naquele momento, cortaria o mal pela raiz. Mas preferiu passar a mão na cabeça do subordinado, como se o crime que ele estava cometendo fosse apenas uma peraltice de um menino mimado. O problema, dizem os donos do dinheiro, é que uma semana de indecisão pode resultar em muita dificuldade para a aprovação do ajuste fiscal tão necessário para tirar o Brasil do atoleiro.

 

No mercado financeiro, o nervosismo é grande. Os operadores ressaltam que a postura de Temer faz lembrar seu colega de partido, o ex-presidente José Sarney, que perdeu totalmente o controle de seu governo. A analogia faz sentido. Quando substituiu Dilma Rousseff, muitos especialistas diziam que Temer teria a chance de se tornar um novo Itamar Franco, que conseguiu fazer reformas importantes e patrocinar o Plano Real, ou de se assemelhar a Sarney, cujo mandato foi marcado por consecutivos fracassos no combate à inflação e na tentativa de reorganização da economia.

 

“A apreensão é grande. Qualquer sinal de derrota na votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o aumento de gastos à inflação detonará o botão do pânico”, diz um dos principais banqueiros do país. A promessa do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é de que o projeto seja votado em primeiro turno no Senado na próxima terça-feira, 29. Esse compromisso, por sinal, foi ratificado pelo chefe da equipe econômica em conversas com vários executivos do mercado privado na tentativa de acalmar os ânimos. Meirelles suspendeu ontem compromissos em São Paulo para, de Brasília, articular uma operação de apoio a Temer entre os donos do dinheiro.

 

Previdência

 

Na visão de especialistas, com o governo sob ataque, dificilmente o Planalto conseguirá dar um passo muito além da PEC dos gastos. Se, antes do escândalo provocado por Geddel, o ceticismo em relação à reforma da Previdência era enorme, a desconfiança quanto a um apoio do Congresso às mudanças no sistema de aposentadoria se multiplicou. “É melhor esquecer a reforma da Previdência. O clima político só vai se deteriorar daqui por diante. Não bastasse Geddel, teremos pela frente a delação da Odebrecht”, afirma um ex-diretor do Banco Central. “Com as denúncias de corrupção proliferando no governo, será difícil aglutinar apoio”, acrescenta.

 

Um integrante da equipe econômica vai além. “Não custa lembrar que dois dos mais próximos auxiliares de Temer, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (responsável pelos programas de concessões), também estão encrencados. Padilha está enrolado nas denúncias de Calero, e Moreira é citado na Operação Lava-Jato”, frisa. Sendo assim, os investidores não vão baixar a guarda. Ao primeiro sinal de deslize do governo, o mundo vai ruir. As perdas computadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) e a arrancada do dólar foram apenas um pequeno ensaio das cenas dos próximos capítulos.

 

Brasília, 06h50min