TÁBUA DE SALVAÇÃO

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Em conversa com integrantes da equipe econômica, a presidente Dilma Rousseff tem deixado transparecer, sem constrangimento, a satisfação pelo clima menos beligerante do mercado financeiro em relação ao governo. A avaliação é de que, aos poucos, lentamente, os investidores estão se convencendo de que, mesmo com os embates políticos, o ministro da Fazenda entregará o ajuste fiscal prometido. Mas é preciso muita cautela. Comemorar antes da hora sempre se mostrou um péssimo negócio.

O ajuste fiscal que todos esperam é só o começo da reconstrução da confiança que o país precisa para a retomada do crescimento. O estrago provocado nas contas públicas nos últimos quatro anos deixou um deficit enorme de credibilidade e um passivo assustador. Quando se olha para os resultados do setor público nos últimos 12 meses, o que se vê é um rombo de R$ 435,7 bilhões, o equivalente a 7,81% do Produto Interno Bruto (PIB). Essa fatura corresponde a soma do buraco de R$ 39,1 bilhões no caixa da União, de estados e municípios com as despesas de juros, de R$ 396,6 bilhões.

Diante desse quadro, o superavit de 1,2% do PIB prometido por Levy para este ano, equivalente a R$ 70 bilhões, está longe de ser a solução que o país precisa para recuperar a responsabilidade fiscal. Não por acaso, o mercado reduziu a importância que vinha dando à votação das Medidas Provisórias 664 e 665, que reduzem o acesso a benefícios sociais. Mais importante do que o valor a ser economizado com as MPs, que já foram desfiguradas pelo Congresso, é o tamanho do corte de gastos que o governo promete anunciar ainda neste mês. É esse o verdadeiro arrocho que o mercado que ver.

Por enquanto, o que o governo está sinalizando são ajustes de curto prazo. Ainda há dúvidas se o compromisso com o equilíbrio fiscal se prolongará pelos próximos anos, livre de tentações políticas e de presidentes que cismam em lançar novas matrizes econômicas acreditando que podem provocar saltos espetaculares no PIB. Dilma Rousseff deu demonstrações suficientes de que é chegada a estripulias nas contas públicas. E que só se rendeu ao ortodoxismo de Levy como tábua de salvação.

Nada impede que, dois anos depois, às vésperas das próximas eleições, Dilma volte a recorrer a maquiagens, truques, pedaladas fiscais para tentar bombar a economia a fim de criar uma sensação superficial de bem-estar na população, como forma de viabilizar uma candidatura petista. O desejo de poder do PT é desmedido. E se precisar colocar as contas públicas em risco novamente para manter o domínio do Palácio do Planalto por mais quatro anos, não medirá esforços. Dilma será apenas a executora do projeto para fazer seu sucessor.

O PT, como já demonstrou o ex-presidente Lula, não desistirá facilmente da empreitada de sair vitorioso das urnas em 2018. O partido sabe que a situação econômica vai piorar muito neste ano. Por isso, mesmo que envergonhado, dará apoio às medidas adotadas por Dilma. A aposta é a de que, mais à frente, será recompensado com mais crescimento, emprego e renda, combinação que sempre seduz os eleitores. A legenda acredita ainda que as denúncias de corrupção envolvendo a Petrobras perderão força, sobretudo depois de a estatal recuperar o fôlego para investir.

Pelos cálculos do Bank of America Merrill Lynch, se o ajuste fiscal promovido por Levy der resultados, o governo começará a colher resultados a partir de 2016. A expectativa dos economistas da instituição norte-americana é a de que, depois de encolher 1,3% neste ano, o PIB avance 1,2% no seguinte, puxado pela maior confiança dos agentes econômicos. O banco acredita que os investimentos produtivos tenderão a voltar, assim como o consumo, a despeito do ritmo lento.

Aos mais próximos, Dilma vem conclamando que, aprovadas as medidas provisórias no Congresso e anunciado o corte de gastos que deve ficar entre R$ 60 bilhões e R$ 80 bilhões, todos os integrantes do governo saiam às ruas para mostrar que o governo não morreu. Ela, inclusive, já se prepara para, com números mais favoráveis nas mãos, voltar a enfrentar os eleitores. Acredita que terá bons argumentos para rebater os panelaços que, agora, ela tanto teme.

Faz parte do papel do governo tentar mostrar otimismo. Mas daí a acreditar que terá driblado todos os problemas e a desconfiança com um pacote fiscal longe do ideal tem uma grande distância. Os mesmos investidores que estão mostrando certo conformismo com o que o Palácio do Planalto tem oferecido vão cobrar medidas adicionais e mais fortes para arrumar a casa de vez. A vida de Dilma está longe, mas muito longe de um mar de rosas. Há, sim, um assustador tsunami à espreita.  Trabalhador paga a conta » A indústria se manterá no fundo do poço por um longo período. Pelas contas de Luciana de Sá, economista-chefe da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), o setor encolheu 2,8% em março na comparação com o mesmo mês de 2014. “O pior chegou. A queda da produção está batendo firme no emprego e na renda”, diz. Reajustes de combustíveis » O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, não descarta a possibilidade de a Petrobras anunciar aumento dos combustíveis no segundo semestre, se os preços do petróleo continuarem em alta e o dólar caminhar para mais próximo de R$ 3,50. Segundo ele, o discurso para esse possível reajuste já está sendo preparado pelo governo.

Brasília, 00h10min