S&P melhora perspectiva de risco do Brasil de “estável” para “positiva”

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ROSANA HESSEL

A agência norte-americana de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) elevou de “estável” para “positiva” a perspectiva para os títulos soberanos do Brasil, diante dos “sinais de maior certeza sobre as políticas fiscais e de estabilidade para a política monetária”. Na avaliação da instituição, essas sinalizações “podem beneficiar as atuais projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro”.

“Apesar de deficits fiscais (das contas públicas) ainda elevados, o crescimento contínuo do PIB, os avanços no novo arcabouço fiscal podem resultar em um aumento da carga da dívida do governo menor do que o inicialmente esperado”, destacou a agência. “A perspectiva positiva reflete sinais de maior certeza sobre a estabilidade da política fiscal que poderia beneficiar as projeções ainda baixas de crescimento do PIB do Brasil”, acrescentou.

Para a entidade, a perspectiva de avanços na política fiscal podem ajudar na flexibilização da política monetária. A agência aponta ainda como fator positivo a resiliência da estrutura institucional do Brasil, com formulação de políticas baseadas em amplos freios e contrapesos entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

Além de revisar de estável para positiva a perspectiva para o Brasil, a S&P reafirmou os ratings de crédito soberano “BB-/B” para os títulos soberanos do país de longo e curto prazos em moeda estrangeira e local.

É a primeira mudança na perspectiva do rating da instituição desde 2019.  Além disso, reafirmamos o rating soberano ‘brAAA’ na Escala Nacional Brasil, cuja perspectiva segue estável. “A avaliação de transferência e convertibilidade ‘BB+’ do país permanece inalterada”, segundo a agência. Esse rating é considerado “lixo” no mercado externo.

“Nossa visão positiva baseia-se na perspectiva de que medidas contínuas para enfrentar a rigidez econômica e fiscal podem reforçar nossa visão da resiliência da estrutura institucional do Brasil e reduzir os riscos à sua flexibilidade monetária e posição externa líquida”, destacou o comunicado da S&P. Contudo, a agência faz alertas sobre as incertezas para frente em relação à dívida pública bruta, que ainda deve continuar crescendo, pelo menos, até 2025 ou 2026, destacou Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos.

“O texto é bem consistente e fala um pouco que o Brasil está em uma situação razoavelmente boa em relação a outros países emergentes que passaram pela pandemia”, afirmou Velho. Segundo ele, essa melhora na perspectiva da nota de risco do Brasil era esperada por conta da redução do risco país, após o avanço do arcabouço fiscal no Congresso. Os prêmios de risco, como os CDS (Credit Default Swap),  por exemplo, voltaram a ficar abaixo de 200 pontos.

“A  S&P dá uma sinalização positiva para a economia brasileira, mas faz uns alertas mostrando que estimativas anteriores eram mais pessimistas”, acrescentou Velho. Ele ressaltou que, nas últimas semanas, a mudança dessa percepção de risco está se refletindo até na Bolsa, que voltou a ficar acima de 115 mil pontos. Velho lembrou que algumas apostas do mercado indicam que o Índice Bovespa, principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) poderá chegar a 135 mil pontos até o fim do ano.

De acordo com o comunicado da S&P, a economia brasileira vem crescendo acima das expectativas do mercado, desde 2020, devido aos termos de troca favoráveis e ao consumo resiliente “após forte recuperação do emprego”.  “Grandes de liquidez por parte do Banco Central e condições financeiras favoráveis ​​em 2020-2021 também apoiaram a recuperação”, acrescentou, em relação aos pacotes de estímulo do governo desde a pandemia da covid19.

A S&P revisou, recentemente, a previsão de crescimento do PIB brasileiro em 2023, de 0,7% para 1,7%, devido ao desempenho muito forte do setor agrícola e seus efeitos colaterais na economia. Diante da desaceleração da inflação, a agência considera aposta em um provável afrouxamento da política monetária, levando o crescimento econômico do país a 2% até 2026. “Estimamos que o PIB per capita (do Brasil) chegará a US$ 9.700, em 2023, e tenderá a US$ 10.800, até 2026”, destacou o comunicado.  “A taxa média do crescimento do PIB está aumentando, mas ainda é inferior à de pares com o mesmo nível de desenvolvimento econômico”, acrescentou.

Vicente Nunes