Não foi um debate trivial dentro do governo a redução da banda de flutuação da meta de inflação, de dois para 1,5 ponto percentual, a partir de 2017. No que dependesse do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, haveria tanto a diminuição da meta, de 4,5% para 4,25%, como a mudança no teto e no piso do objetivo perseguido pelo Banco Central.
Desde o início, sabia-se que a presidente Dilma Rousseff não permitiria uma meta mais ousada de inflação, sob o argumento de que isso poderia impedir a retomada do crescimento, já que o BC teria que manter juros elevados por um período muito longo. Mas ela acabou cedendo na questão da banda de flutuação, que, daqui a dois anos, passará a ser de 3% e 6%, ante os 2,5% e 6,5% atuais.
A empreitada de Levy teve, sobretudo, o apoio do presidente do BC, Alexandre Tombini, que assumiu um discurso duro contra a carestia, depois de quatro anos de leniência do governo, que acreditou no conto de fadas de que um pouco mais de inflação ajudaria o país a acelerar o crescimento econômico.
O sinal que o governo tenta emitir aos agentes de mercado é o de que o compromisso com o controle da inflação é irreversível. Mas será preciso muito mais do que uma banda menor da meta inflacionária para que empresários e consumidores deem o voto de confiança que o Palácio do Planalto tanto anseia.
Nos últimos quatro anos, Dilma brincou demais com a inflação, que se situou no limite da tolerância ou acima dele. Os resultado estão aí. Produto Interno Bruto (PIB) com queda superior a 1%, custo de vida acima de 9%, desemprego subindo desde o fim do ano passado e renda dos trabalhadores despencando. Tudo indica que viveremos, entre 2015 e 2016, a pior recessão que se tem notícia desde a redemocratização do país.
O quadro dramático da economia, por sinal, foi descrito sem constrangimento pelos economistas que se reuniram com Levy ontem. O ministro quis saber se a recessão de hoje tem a ver mais com fatores cíclicos, que serão superados em um prazo curto de tempo, ou decorre de fatores estruturais. Ouviu que o país não soube aproveitar os bons ventos que vigoraram na década passada para fazer o dever de casa, as grandes reformas constitucionais.
Portanto, o Brasil ainda está fadado a apresentar taxas medíocres de crescimento. É verdade que o controle da inflação será vital para permitir a retomada da confiança dos agentes econômicos, e o ajuste fiscal que Levy promete entregar dá a calma necessária para que a situação não degringole de vez. Mas o governo tem de fazer muito mais. A redução da banda da meta é um sopro de vida num horizonte conturbado que se coloca à frente. Nada mais do que isso.
Linguagem do mar
» A reunião do ministro da Fazenda com 16 economistas foi marcada pela linguagem marítima. Ressaca, âncora e remar contra a maré foram expressões que dominaram os discursos de Levy e dos convidados.
Decepção na Fazenda
» Parte dos economistas recebidos por Levy foi embora sem ser ouvida pelo ministro. O encontro começou com meia hora de atraso, e o ministro saiu antes da hora combinada. A frustração foi grande.
Brasília, 00h10min