SILÊNCIO ESTRATÉGICO

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A presidente Dilma Rousseff está seguindo à risca o compromisso acertado com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de não falar nada sobre economia até que a confiança na equipe que ele comanda esteja consolidada. Depois do estresse que criou ao obrigar o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, a negar, por meio de nota, o que ele tinha dito um dia antes sobre a política de correção do salário mínimo, Dilma se calou.

Nada, nem mesmo o anúncio de aumento de impostos e da energia elétrica, que havia negado com todas as forças durante a campanha eleitoral, mereceu uma palavra da presidente, até para não ser confrontada com as mentiras que espalhou na busca por mais quatro anos no Palácio do Planalto. “Passaram-se os primeiros 15 dias do segundo mandato e não rolou nenhum embate com Levy”, diz um entusiasmado técnico da Fazenda. “Por isso, estamos começando a acreditar que a promessa de Dilma de terceirização da economia é para valer”, acrescenta.

O histórico da presidente recomenda, contudo, muita cautela. Se há motivos para comemoração dentro do governo pelo fato de a chefe do Executivo estar, com seu silêncio, endossando todas as maldades anunciadas por Levy, ela terá que dar sinais muito mais consistentes para os investidores de que os ajustes anunciados na política econômica são para valer. A grande pergunta que todos fazem no mercado é sobre como Dilma convencerá o Congresso Nacional a aprovar aumentos de tributos e cortes de benefícios sociais.

A resistência a tais medidas começa no partido da presidente, o PT. Por mais que os caciques da legenda garantam, publicamente, amplo apoio às ações do governo no sentido de resgatar a credibilidade da economia, as bases temem que o Planalto avance demais o sinal, traindo compromissos históricos com os trabalhadores. As centrais sindicais, por sinal, já marcaram uma grande mobilização para 28 de janeiro contra as medidas provisórias que restringem as concessões do seguro-desemprego e das pensões por morte.

É preciso considerar ainda que Dilma está politicamente enfraquecida por causa da corrupção que destrói a Petrobras. Quase todos os partidos da base aliada têm integrantes citados como beneficiários do esquema que teria desviado mais de R$ 10 bilhões da companhia. A presidente terá que mostrar uma habilidade que nunca teve desde que chegou ao Planalto, em janeiro de 2011, para conciliar os interesses do governo e os das legendas que lhe dão apoio.

Por isso, mesmo com Joaquim Levy seguindo à risca a cartilha do mercado, o sentimento de desconfiança prevalece. A agência de classificação de riscos Standard & Poor’s, que está a um passo de rebaixar o Brasil para o nível especulativo, já avisou que as palavras do ministro da Fazenda são bonitas, que ele tem mostrado compromisso em resolver os desajustes fiscais do país, mas será preciso muito empenho do Planalto e do Congresso para que as promessas se tornem realidade.

Hora de sangue-frio

Economista-chefe da INVX Partners, Eduardo Velho acredita que os investidores vão ampliar as apostas de que o Brasil fechou 2014 com queda no Produto Interno Bruto (PIB). A gota d’água para que essa visão de consolide será o anúncio, pelo Banco Central, de contração na atividade econômica em novembro. O dado sairá hoje. Na média, o mercado prevê retração de 0,2% ante o mês anterior. “Isso só aumenta a responsabilidade da equipe chefiada por Joaquim Levy, que terá de fazer uma gestão muito boa das expectativas a curto prazo”, afirma. “Os números que veremos nos próximos meses são muito ruins. Teremos diante de nós uma economia encolhendo e a inflação subindo”, emenda.

BC não comove

As mudanças que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, pretende fazer na diretoria da instituição não têm causado grande comoção entre os investidores. Motivo: o forte contentamento com a equipe do Ministério da Fazenda. Para os especialistas, o maior foco de tensão entre o mercado e o governo estava no Tesouro Nacional. E a substituição de Arno Augustin por Marcelo Barbosa Saintive tratou de esfriar os ânimos.

Onda de calote

É cada vez maior a tensão entre executivos de bancos em relação às construtoras envolvidas na operação Lava-Jato, que investiga corrupção na Petrobras. Os sinais emitidos pelas empresas são de que uma grande onda de calote em empréstimos está a caminho.

Desemprego no Rio

O governo já recebeu sinais de que, com a crise que atinge a Petrobras e suas prestadoras de serviço, o desemprego no Rio de Janeiro deve começar a subir. Nos últimos meses, a taxa de desocupação no estado se manteve em 3,6%, bem abaixo da média das seis principais regiões metropolitanas do país, de 4,8%.

Sinais de autoritarismo

Joaquim Levy quer proibir jornalistas de se posicionarem na portaria do Ministério da Fazenda à espera de notícia. E já acionou a segurança para agir. Não cabe a ele, no entanto, decidir onde a imprensa deve estar.

Brasília, 00h01min