Sem surpresas, Fed decide elevar os juros básicos em 0,25 ponto

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ROSANA HESSEL

O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) aumentou a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual elevando o intervalo para 4,75% a 5%, maior patamar desde 2007, conforme comunicado emitido após reunião do Fomc, comitê de política monetária da instituição, nesta quarta-feira (22). A redução no ritmo de alta dos juros, que estava em 0,50 ponto, era esperada pela maioria dos analistas de mercado e a decisão foi unânime.

“O sistema bancário dos EUA é sólido e resiliente. Acontecimentos recentes devem resultar em condições de crédito mais restritivas para famílias e empresas e pesar na atividade econômica, nas contratações e na inflação. A extensão desses efeitos é incerta. O Comitê permanece altamente atento aos riscos de inflação”, destacou o Fomc, no comunicado da 9ª alta consecutiva.

Ao avaliar a orientação apropriada para a política monetária, o Comitê informou que “continuará monitorando as implicações das informações recebidas para as perspectivas econômicas” e estaria preparado para ajustar a política monetária “conforme apropriado caso surgissem riscos que pudessem impedir o alcance de suas metas”. O texto reforçou que o Fed continuará “fortemente comprometido” com a meta de inflação de 2%. “As avaliações do Comitê levarão em conta uma ampla gama de informações, incluindo leituras sobre as condições do mercado de trabalho, pressões inflacionárias e expectativas de inflação, e desenvolvimentos financeiros e internacionais”, acrescentou o documento do Fomc.

Na avaliação de Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, a decisão e o comunicado do Fed ocorreram “como o esperado”.  “O comunicado traz um parágrafo mencionado do sistema bancário diante do de toda turbulência recente fala que é seguro acho que eles tem um atentos aos efeitos que ainda são insetos e que vão ficar atentos a isso mas também em outro parágrafo fala que a lei continua alta que vão ficar bem também atentos a inflação e o efeito da política monetária”, destacou.

O especialista lembrou que, no caso do Fed, havia mais incertezas do que a do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central brasileiro, que continua reunido nesta quarta-feira e deverá soltar um comunicado mais à noite. “O Copom está mais previsível”, afirmou Cruz, reforçando o consenso do mercado em manter a taxa básica da economia (Selic) em 13,75% ao ano. “Vamos ver se o Comitê vai colocar a crise dos bancos estrangeiros e o risco de crédito brasileiro na balança de riscos”, acrescentou.

De acordo com Cruz, o que poderia ter um pouco mais de surpresa em relação ao Fed era o material de projeções, mas houve pouca mudança. “Eles ainda colocaram como visão majoritária para os juros de até 5,25% no final do ano. isso é bem relevante, porque as expectativas estão bem bagunçadas depois que começou a acontecer todo o caos bancário antes estava bem precificado bem ancorado acho que a palavra que o mercado gosta de usar que o Fed chegaria a algum nível de juros este ano e não mudaria ao longo do restante”, acrescentou. “Isso mudou, o mercado está prevendo cortes de juros ao longo do segundo semestre. O que eu acho que dificilmente deverá acontecer”, ressaltou Cruz. Para ele, a crise no setor bancário vai travar a alta de juros em um patamar mais baixo e, portanto, é preciso aguardar a entrevista do presidente do Fed, Jerome Powell.

Para o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio de Souza Leal, o fato de o Fed não ter elevado os juros em 0,50 ponto percentual, devido à crise bancária nos EUA, não quer significar que o BC norte-americano vai interromper o ciclo de alta ou mesmo reduzir.  “Lendo apenas o primeiro parágrafo do comunicado, teríamos a clara sensação de que o BC americano estaria longe de parar de subir os juros. Entretanto, no meio do caminho tinha uma ‘crise bancária’ e, apesar de dizer que o sistema bancário americano estava ‘sound’ e ‘robust’, ele admite que isso vai ter impactos sobre o mercado de crédito e, consequentemente, sobre a economia”, destacou.  “Certamente os mercados vão sair da leitura do statement com uma vontade de apostar que ele parou”, acrescentou.  Para ele, olhando os demais anos, parece que, após os últimos acontecimentos no setor bancário americano, o Fed adotou uma estratégia de subir menos, “mas mantendo os juros elevados por mais tempo, uma vez que a mediana das projeções para 2024 passou de 4% para  4,25% anuais. ” Conclusão, a decisão foi mais dovish do que se esperava antes da crise e talvez mais hawkish do que poderia ser após ela”, completou.

“No comunicado oficial da instituição, o comitê de política monetária do Fed informou que a decisão foi fundamentada na necessidade de retomar a estabilidade de preços na casa dos 2%, o que demanda arrefecimento da inflação, que ainda se encontra muito elevada, assim como o desaquecimento do mercado de trabalho, cuja taxa de desemprego vem apresentando elevada resiliência mesmo em meio aos consecutivos aumentos nos juros do país”, destacou Matheus Pizzani, economista da CM Capital. Ele lembrou que o comitê vê a necessidade de “novos aumentos para elevar a taxa a um nível efetivamente restritivo, patamar necessário para proporcionar o arrefecimento esperado pela instituição da inflação e cumprimento de seu plano de voo de longo prazo”. “A magnitude do ajuste, ou ajustes, não foi informada neste primeiro momento, dependendo ainda da evolução dos indicadores acompanhados pelo Fed para construção de seu cenário de inflação”, acrescentou.

Após o anúncio do Fed, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3), continuava operando no azul, com alta de 0,37%, por volta das 16h a 101.368 pontos. Logo após a fala de Powell, que foi claro de que não pretende cortar os juros, o sinal das bolsas nos Estados Unidos inverteu e a B3 acompanhou o mercado externo e fechou com queda de 0,77%, a 100.220 pontos.

Vicente Nunes