RUMOS DA SELIC

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Dentro do governo, é grande a torcida para que o Banco Central encerre, no fim deste mês, o processo de alta da taxa básica de juros (Selic). Auxiliares da presidente Dilma Rousseff afirmam que, com a economia registrando números tão ruins, especialmente em relação ao desemprego, seria muito bem-vinda a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de dar mais uma alta de 0,25 ponto percentual, com a Selic passando de 12,75% para 13% ao ano. E pronto.

Para esse grupo de técnicos, a combinação de juros altos com ajuste fiscal consistente e recessão fará o serviço desejado pelo BC de levar a inflação para o centro da meta, de 4,5%, até o fim de 2016. “Não podemos esquecer que, desde 2013, a Selic já subiu 5,5 pontos percentuais. Trata-se de um brutal choque de juros”, ressalta um dos auxiliares da presidente.

Ele reconhece, porém, que, mesmo com toda a alta da Selic, a inflação continuou subindo, passando dos 8% no acumulado de 12 meses, índice inaceitável que pune, principalmente, a população mais pobre, que não tem como se defender da onda de reajustes. “O que vimos até agora foi a correção de erros do passado, como o congelamento das tarifas públicas. Mas isso acabou. O grosso dos aumentos já foi repassado para o custo de vida. A inflação mensal vai cair”, acrescenta.

Esse discurso para um BC mais brando encontra eco no mercado financeiro. Instituições como Citibank e Morgan Stanley têm ressaltado, em relatórios a clientes, ser grande a possibilidade de o Copom encerrar o ciclo de alta dos juros com apenas mais uma elevação de 0,25 ponto neste mês. E mais: acreditam que, diante do tamanho do tombo da atividade que os indicadores futuros vão mostrar, não será surpresa se, no fim deste ano, a Selic começar a cair.

Ciente dessa visão, o presidente do BC, Alexandre Tombini, tratou ontem de dissipá-la. Para isso, resgatou o termo “vigilante” que havia sido abandonado pela instituição na última ata do Copom. Ele está convencido de que, para resgatar a credibilidade da política monetária e retomar o controle das expectativas, o Copom precisa ser mais rigoroso neste momento, independentemente de o nível da atividade estar no chão. Não é só.

Ainda que o BC garanta que a inflação convergirá para o centro da meta no ano que vem, as projeções do mercado se mantém, na média, em 5,6% para 2016. E as cinco instituições que mais acertam as estimativas apostam em um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 6,4%.

Para Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Partners, tanto o discurso de Tombini quanto as declarações do novo diretor de Assuntos Internacionais do BC, Tony Volpon, em sabatina no Senado, indicam que o Copom manterá o ritmo de alta de 0,5 ponto na Selic no fim de abril. A partir daí, analisará o desempenho da inflação e da atividade para, então, encerrar o processo de elevação da Selic com mais 0,25 ponto, para 13,50%.

Na visão de Velho, não é possível descartar a hipótese de o BC cortar os juros no fim de ano, como pregam alguns bancos, se o IPCA caminhar mais rapidamente que o esperar para o centro da meta. “Mas, neste momento, tal possibilidade é remota. A inflação está alta, resistente e, para cair quase à metade num curto espaço de tempo, será preciso um evento muito forte, o que não está contemplado no cenário da maioria dos especialistas”, frisa.

O economista da INVX ressalta que vários especialistas se animaram com a decisão da agência de classificação de risco Standard and Poor’s (S&P) de não rebaixar o Brasil e com a postergação, pelo Federal Reserve (Fed), o BC dos Estados Unidos, do aumento dos juros na maior economia do planeta. Por isso, o mercado ficou tão dividido entre alta de 0,25 e de 0,50 ponto neste mês.

“Mas creio que, com as declarações de Tombini e de Volpon, o mercado tende a concentrar as apostas em Selic de 13,25% no fim de abril., ou seja, alta de 0,50 ponto”, afirma Velho.

Pombo, nada! Sou falcão.

» Quem acompanhou a sabatina de Tony Volpon no Senado percebeu o esforço que o economista fez para espantar a fama de ser alinhado a um grupo menos linha-dura no combate à inflação. Assim que foi indicado para a diretoria de Assuntos Internacionais do BC, Volpon foi definido pelo mercado como dovish — pombo, em português.

O medo de Esteves

 » Técnicos com Banco Central viram, com certo espanto, a forma enfática como o presidente do Banco BTG Pactual, André Esteves, defendeu o encerramento do ciclo de alta dos juros no fim deste mês. Muitos interpretaram as declarações do banqueiro como um sinal de que ele está apostando pesado no mercado futuro que a Selic subirá apenas 0,25 ponto e nada mais. Se o BC for além disso, como é bem provável, o BTG terá prejuízo nada desprezível com as operações.

Desprezo de Levy

» O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, está convencido de que assessoria de imprensa não serve para nada. Na segunda-feira, quando visitou uma feira agrícola no interior de Goiás, desprezou a companhia de um dos jornalistas da Pasta. Ontem fez o mesmo, ao embarcar para Washington, onde participará da reunião de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Investigações no Senac

» Gente que costuma se hospedar em hotéis do Serviço Nacional de Aprendizado Comercial (Senac) em Minas Gerais está sendo surpreendida com a recusa para reservas. Motivo: investigações do Ministério Público que apuram denúncias de irregularidades. Os funcionários dos estabelecimentos estão em pânico.

Brasília, 00h01min