Rombo fiscal de 2021 pode chegar a R$ 300 bilhões, prevê MB Associados

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ROSANA HESSEL

Após a sanção do Orçamento de 2021,  que foi publicado nesta sexta-feira com um total de cortes de despesas não-obrigatórias e de emendas parlamentares de R$ 19,8 bilhões, mais um contingenciamento de R$ 9,3 bilhões, o governo Jair Bolsonaro não vai conseguir evitar um aumento do deficit primário, pelos cálculos do economista-chefe da MB Associados, o rombo das contas públicas poderá chegar a R$ 300 bilhões neste ano, mesmo com os ajustes da peça orçamentária.

O governo tem um desafio grande pela frente que é o controle das contas públicas em um ano em que a pandemia da covid-19 não dá sinais de trégua e tem um saldo de mortes crescentes em um cenário pior do que o do ano passado. A Lei de Diretrizes Orçamentárias permite um rombo de até R$ 247,1 bilhões nas contas do governo federal. haverá um aumento de R$ 100 bilhões sobre o deficit primário projetado anteriormente, de R$ 250 bilhões.

O rombo previsto por Vale equivale a 4% do PIB, devendo levar a dívida pública para 88,7% do Produto Interno Bruto (PIB) até dezembro. Atualmente, esse percentual se encontra em 90% do PIB e o economista destaca que essa redução está relacionada às devoluções dos bancos públicos de aportes do Tesouro Nacional. Neste ano, o governo prevê que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) devolva aos cofres públicos R$ 100 bilhões e, em março, R$ 28 bilhões foram recebidos, restando R$ 62 bilhões que deverão entrar nos cofres do Tesouro até ao longo de 2021.

“Com os contingenciamentos esperados, acreditamos que o deficit primário poderá piorar metade desse valor de aumento das despesas, ou seja, chegar a cerca de R$ 300 bilhões”, afirmou Vale. Para 2022, ele prevê um rombo de R$ 200 bilhões, o equivalente a 2,5% do PIB, com dívida pública bruta voltando a crescer e chegando a 92,1% do PIB.

O economista da MB ainda destacou que o cenário macroeconômico mundial ficou mais nebuloso por conta da pandemia, pois diversos indicadores pioraram de forma significativa e colocaram um cenário de incerteza à frente, “especialmente para os emergentes”.  Nesse caso, o Brasil aparece em destaque no ranking de vulnerabilidade elevada, em terceiro lugar, atrás apenas de Argentina e da África do Sul no indicador de avaliação de riscos, pois a pandemia criou um cenário nunca antes visto do ponto de vista fiscal para esses países. “Há uma forte tendência de expansão da dívida pública por conta de fatores políticos e conjunturais e, por certa pressão, de resposta da sociedade”, destacou Vale no relatório.

A consultoria está mais pessimista do que o mercado e o governo em relação à retomada da economia, pois prevê crescimento de 2,6%, no PIB deste ano, e de 1,8%, no PIB de 2022. Já o Ministério da Economia aposta em avanços de 3,2% e de 2,5%, respectivamente. A mediana das estimativas do mercado, coletadas no boletim semanal Focus, do Banco Central, estima avanços de 3,04% e de 2,34%, respectivamente.

Vicente Nunes