RISCO EM DISPARADA

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Um dos parlamentares mais influentes do PT, o partido da presidente Dilma, diz temer o momento em que não poderá mais andar calmamente pelas ruas, diante do peso que o antipestimo está ganhando. Ele conta que a hostilidade ao partido que chegou ao poder prometendo resgatar a ética, mas se tornou sinônimo de corrupção, é tamanha, que não descarta a possibilidade de um forte movimento popular tomar as ruas, quando todo o impacto do desastre econômico provocado por Dilma nos últimos quatro anos se fizer presente. Será difícil para a população, sobretudo a mais pobre, que votou em peso pela reeleição da petista, combinar recessão, desemprego e inflação alta.

Essa visão dramática do país não se restringe ao mundo político. Entre os investidores, a desconfiança também é geral. Tanto no país quanto no exterior, todos se perguntam até que ponto Dilma terá fôlego para segurar uma crise política decorrente do péssimo desempenho da economia. Para os que monitoram a pressão do país, as cobranças populares tenderão a dificultar as já desgastadas relações entre o Executivo e o Congresso Nacional. Se o governo está fraco hoje, acumulando derrotas em votações importantes, ficará totalmente fragilizado para tocar projetos impopulares como o ajuste fiscal que o país tanto precisa para sair do atoleiro em que se encontra.

O tamanho da preocupação dos investidores com o Brasil pode ser medido pelo Credit Default Swap (CDS), um seguro contra risco negociado no mercado internacional. A taxa referente ao país vem subindo sistematicamente desde o fim de janeiro. Fechou ontem em 246 pontos, mais do que o dobro dos 111 pontos do México e muito acima dos 151 pontos da Colômbia e dos 165 da Índia. Na visão dos especialistas, o mais assustador é que não há nada no horizonte que mude a tendência de elevação dessa taxa de risco.

Do ponto de vista econômico, o pior está por vir, principalmente se for confirmado o racionamento de energia elétrica e de água e se o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não conseguir entregar o prometido superavit primário (economia para o pagamento de juros) de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Até há bem pouco tempo, a dúvida do mercado era se Dilma apoiaria as medidas fiscais. Agora, o questionamento é se, mesmo com o apoio da presidente, a equipe econômica conseguirá atingir a meta com a atividade mergulhando na recessão. “No caso do ajuste fiscal, não haverá perdão. Os investidores vão querer ver a entrega do superavit cheio”, diz um especialista.

Do lado político, as denúncias feitas pelos delatores presos por meio da Operação Lava-Jato aproximam cada vez mais o Palácio do Planalto da corrupção que sugou o caixa da Petrobras. Por isso, acredita o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB), ficará latente o debate em torno de um impeachment de Dilma. “Tudo indica que a presidente caminhará os próximos dias como um pato manco, sem apoio popular e sem força no Congresso”, afirma. “A sensação que se tem hoje, com menos de dois meses de governo, é de fim de festa”, emenda.

Na avaliação de Fleischer, era grande a aposta de que a nova equipe econômica reverteria rapidamente a desconfiança em relação ao governo. Mas, depois de uma pequena lua de mel, o pessimismo voltou com tudo. E retornou por culpa da desastrada ação do Palácio do Planalto na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados e do motim criado pelo PT contra o pacote de medidas que corrigem distorções no seguro-desemprego, nas pensões por morte e no abono salarial, ou seja, num governo assim, quem precisa de inimigos?

Levy abre mão da fantasia

» Com o risco Brasil em disparada, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, nem vestirá a fantasia de carnaval. Ele embarcará para Nova York na próxima terça-feira, para encontros com gente do mercado que anda estarrecida com a deterioração política e econômica do país.

Oráculo de Delfim

» Um grupo de analistas lembrava ontem uma conversa com Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, pouco antes das eleições presidenciais. O economista disse que a presidente Dilma Rousseff seria reeleita, mas, seis meses depois, aqueles de votaram nela estariam completamente arrependidos.

BC joga a toalha

» Técnicos do Banco Central admitem que o PIB registrará queda no primeiro e no segundo trimestre de 2015. E ressaltam que não há garantia de que, no segundo semestre, a atividade voltará a reagir a fim de evitar que o resultado final do ano seja negativo.

Favores ao PMDB

» O PT está convencido de que a nomeação de Miriam Belchior para a presidência da Caixa Econômica Federal não impedirá que o PMDB avance sobre algumas das vice-presidências da instituição. O partido acredita que Dilma Rousseff não lhe negará esse favor.

Hereda abre a boca

» Jorge Hereda, quase ex-presidente da Caixa, explicitou ontem por que foi defenestrado do cargo. Afirmou ser contra a abertura de capital do banco, proposta defendida com unhas e dentes por Joaquim Levy.

Brasília, 15h50min