A diretoria do Banco Central está ciente de que levará tempo para recuperar o voto de confiança dos agentes econômicos. E conta com o governo para que o desgaste sofrido pela instituição, depois de um pronunciamento desastroso do presidente do banco, Alexandre Tombini, não se torne um problema ainda maior.
Há duas preocupações no radar do BC: o pacote de medidas que será anunciado na próxima quinta-feira, 28, pela presidente Dilma Rousseff e o ajuste fiscal prometido pelo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa. Teme-se que os prometidos estímulos à economia repitam os erros do primeiro mandato e inviabilizem de vez a arrumação das contas públicas.
Com a política monetária sob descrédito, admite o BC, o ideal é que o Planalto não provoque mais ruídos até a poeira assentar. Para o grupo chefiado por Tombini, os investidores acabarão dando razão à manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 14,25%, e o vexame ao qual se submeteu o presidente da instituição será passado.
A ordem no BC é assegurar a unidade entre os diretores. A maior parte deles não foi avisada, previamente, sobre a decisão de Tombini de soltar uma nota no primeiro dia da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) indicando que os juros poderiam não subir por causa do quadro dramático da economia traçado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Somente o diretor de Fiscalização, Anthero Meirelles, foi consultado e ajudou a redigir o comunicado da discórdia.
Há também visões contraditórias entre o presidente do BC e o diretor de Assuntos Internacionais, Tony Volpon. Os dois estiveram juntos na reunião dos bancos centrais na Basileia, Suíça, na qual Tombini diz ter ouvido perspectivas horrorosas para a economia mundial. Volpon retornou ao Brasil convencido de que o humor dos dirigentes de BCs estava melhor que o esperado. Tanto que ele votou pela alta de 0,5 ponto percentual na Selic, movimento que era esperado pelo mercado.
Cavalo de pau
Dentro do BC, o que mais se ouve para justificar o cavalo de pau na política monetária é que “estamos diante de um quadro perturbador”. Na visão de integrantes da instituição, o Brasil é hoje um ônibus sem direção, que precisa de um freio de arrumação para que, depois da chacoalhada, abra espaço para a retomada da confiança. Só assim o empresariado voltará a investir e as famílias, a consumirem.
O BC reconhece que o caminho no qual o país se embrenhou é muito estreito, sem espaço para erros. E isso vale para a política monetária. Segundo o banco, com a manutenção dos juros, ganhou-se um tempo precioso para ver qual é o tamanho do fundo do poço que a economia atingirá neste primeiro trimestre do ano, que tende a ser desastroso. O desemprego vai disparar e a inflação ainda se manterá acima de 10% no acumulado de 12 meses.
Mesmo com todo esse cenário desconfortável e de extrema desconfiança, o BC garante que não mudará a linguagem na comunicação com o mercado. Assegurará que se mantém “vigilante” em relação à inflação e que “fará o necessário” para que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) feche 2016 abaixo do teto da meta, de 6,5%, e convirja para 4,5% até o fim de 2017. Esse compromisso, garante a autoridade monetária, está mantido. E deverá ser comprado pelos investidores já no segundo trimestre do ano, quando o custo de vida estará “desabando”.
Mentira
O trabalho de comunicação do BC passa, porém, pelo compromisso com a verdade. A instituição, assim como o Palácio do Planalto, mentiu descaradamente que Alexandre Tombini não havia se encontrado com a presidente Dilma na noite de segunda-feira, véspera da reunião do Copom. Pois ontem a própria Dilma confirmou que se encontrou com Tombini e o ministro da Fazenda naquele dia. Não é negando a verdade que uma instituição se fortalece. Muito pelo contrário.
Brasília, 08h06min