BRASIL DO ENGODO

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O governo está propagandeando o renascimento, hoje, do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, como um marco na virada da política econômica. Há pelo menos duas semanas, assessores da presidente Dilma Rousseff vêm tentando catequizar empresários e investidores de que, agora, o compromisso com a retomada do crescimento do país é para valer. Não há como isso acontecer. A velha Dilma está mais presente do que nunca, com suas ideias atrasadas, que só ampliam as incertezas.

O fiasco está tão claro, que, de última hora, o Palácio do Planalto decidiu que o encontro será fechado à imprensa. Técnicos da equipe do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, que será o porta-voz das supostas boas notícias, não se surpreendem com a falta de transparência e admitem que será tudo mais do mesmo. Uma ou outra coisa, se realmente houver boa vontade do governo, poderá sair do papel. Nada, porém, com força suficiente para inverter a rota do desastre na qual a atividade se encontra. Pacotes mirabolantes perderam a eficácia há muito tempo. E já não enganam mais ninguém, por melhores que sejam as embalagens.

O que se ouve no governo é que a retomada do Conselhão e as medidas de incentivos à economia, que devem envolver pelo menos R$ 55 bilhões em créditos, têm mais interesses políticos do que econômicos. Na verdade, Dilma tentará, com o pacote, mostrar para as bases políticas que está viva e disposta a dar uma direção mais positiva à economia. Com isso, espera enterrar o mais rapidamente possível no Congresso o processo de impeachment, além de ganhar musculatura para aprovar pelo menos a CPMF, já que a prometida reforma da Previdência Social ficará mesmo na promessa.

Falta de liderança

O desânimo com o governo é tamanho que há investidores dizendo que, diante do que será este ano, muita gente sentirá saudades de 2015. A justificativa é a falta de liderança no país. Dilma está completamente perdida. Sua única preocupação é com a sobrevivência até 2018. “O quadro atual é de desgoverno”, diz um técnico do alto escalão. “Enquanto ficam dispendendo energia para apresentar medidas que não darão resultado, a população sofre. Veja o caso dos peritos do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Nenhuma voz gabaritada saiu até agora em defesa dos segurados”, acrescenta.

Para um ministro do PMDB, se está ruim agora, pode piorar, pois há o risco de o governo descambar de vez para o populismo, caso Dilma seja obrigada a se apoiar nos movimentos sociais para se proteger em caso de prisão do ex-presidente Lula. As investigações da Lava-Jato estão cada vez mais próximas do líder petista, ao qual a chefe do Executivo recorre em momentos de dificuldades, sobretudo quando o PT comanda rebeliões.

“Não serão o Conselhão e os pacotes de estímulo ao endividamento que mudarão o clima no país. A crise política continua latente e pode atingir seu ápice se Lula for preso. Na economia, o ritmo é de ladeira abaixo”, frisa o ministro. Ele admite que, nem com muita boa vontade, o empresariado com o qual Dilma se reunirá hoje anunciará trégua e voltará a investir para criar empregos e ampliar a renda. Os problemas do país são enormes. Quando se olha para a frente, tudo está nebuloso. A cada dia, em vez de se fortalecer, o governo se esvai.

Clima de fim de festa

No Planalto, assessores de Dilma reconhecem que a situação de Lula é “grave”. A determinação, contudo, é para se criar e  fatos positivos a fim de minimizar as novas denúncias da Lava-Jato e mostrar que o governo não está paralisado. “Mas será difícil. A percepção entre os agentes econômicos e a população é de que estamos em fim de festa, em que somente a corrupção consegue ir à frente, impassível”, afirma um funcionário do Banco Central. “O pior é que não está sobrando nada. Até a credibilidade do BC foi para o espaço”, emenda.

A tendência, acrescenta o técnico do BC, é de o país continuar colecionando recordes, ou seja, a pior taxa de desemprego, o maior deficit fiscal, a inflação mais elevada. “Tudo sempre é o pior desde não sei quando. Isso só comprova como muita coisa está errada”, afirma. Para ele, no Brasil do engodo tornou-se rotina ter medo do futuro. E a população que se vire.

Brasília, 08h30min

Vicente Nunes