Produção industrial recua 0,7% em fevereiro, frustrando expectativas

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

Após nove meses consecutivos de resultados positivos, a produção industrial nacional perdeu o fôlego no meio da segunda onda da pandemia da covid-19 e voltou a registrar queda. De acordo com dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) divulgada nesta quinta-feira (01/04) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o setor produtivo encolheu 0,7% em fevereiro na comparação com o mês anterior, na série com ajuste sazonal. O resultado surpreendeu o mercado, que esperava uma alta levemente acima do avanço tímido de 0,4% de janeiro, com mediana em torno de 0,5%.

 

No acumulado em 12 meses encerrados em fevereiro, o indicador do IBGE apresentou queda de 4,2%, e, na comparação com o mesmo mês de 2020, alta de 0,4%.  No ano, a alta acumulada da PIM ficou em 1,3%.

 

Conforme os dados do IBGE, com esses resultados, o setor produtivo ficou 13,6% abaixo do patamar recorde alcançado em maio de 2011, mas 2,8% acima do nível pré-pandemia, de fevereiro de 2020.

 

O desempenho da PIM nos últimos meses vinha dando sinais desaceleração no ritmo da atividade após a forte alta de 9,4% de junho, especialmente, quando a pandemia se espalhava com mais força pelo país. O governo federal acabou não tomando medidas em tempo de começar uma vacinação em massa da população no fim do ano passado, junto com vários países davam a largada na imunização.

 

Logo, essa retração da atividade industrial logo em fevereiro já começa a confirmar as projeções nada animadoras de analistas que apostam que, devido à lentidão na vacinação nacional, o país poderá enfrentar uma recessão técnica, quando há queda no Produto Interno Bruto (PIB) por dois trimestres consecutivos, no primeiro semestre de 2021.

 

Queda disseminada

 

O recuo de 0,7% da indústria na margem em fevereiro, teve perfil disseminado de taxas negativas, alcançando três das quatro das grandes categorias econômicas e 14 dos 26 ramos pesquisados, segundo o IBGE.

 

O setor de produção de bens de consumo duráveis apresentou queda de 4,6% entre os meses de janeiro e fevereiro, assinalando a taxa negativa mais acentuada do mês entre as quatro categorias econômicas pesquisadas na PIM. É o segundo mês seguido de redução na produção, com queda acumulada de 5,5% no período. 

 

As categorias de bens de capital e de bens de consumo semi e não-duráveis também registraram taxas negativas em fevereiro, de 1,5% e 0,3%, respectivamente, com o primeiro interrompendo nove meses de resultados positivos. O segundo, por sua vez, reverteu o avanço de 1,7% assinalado em janeiro. Somente a de setor de bens intermediários apresentou taxa positiva em fevereiro de 2021, de 0,6%, eliminando parte da queda de 1% de janeiro.

 

A produção de veículos automotores, reboques e carrocerias e a indústria extrativa foram os ramos de atividade que tiveram destaque entre as quedas no mês de fevereiro, de 7,2% e 4,7%, respectivamente. Segundo o IBGE, essa queda do setor automotivo interrompeu nove meses de resultados positivos e alta acumulada de 1.249,2% no período. Já o recuo da atividade extrativa praticamente anulou os avanços de 3,8%, em dezembro de 2020, e de 1%, em janeiro de 2021. 

 

Outras influências negativas foram: produtos têxteis (-9,0%), produtos de metal (-4,1%), couro, artigos para viagem e calçados (-5,9%), produtos diversos (-8,2%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-0,7%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-3,5%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-3,4%) e de bebidas (-1,8%).

 

Entre as 12 atividades com desempenho positivo, incluem-se  outros produtos químicos (3,3%), máquinas e equipamentos (2,8%), metalurgia (1,4%) e produtos alimentícios (0,5%),. 

 

Na comparação com fevereiro de 2020, a alta de 0,4% foi resultado do desempenho das quatro grandes categorias econômicas e em 17 dos 26 ramos pesquisados, de acordo com o IBGE.

 

Recuperação “em raiz quadrada”

 

Ao analisar os dados da PIM, o economista-chefe da Necton, André Perfeito, descartou a teoria da retomada em V que era defendida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que acreditava em uma recuperação vigorosa da economia no meio da pandemia. Para ele, o fato é que o V acabou virando uma raiz quadrada. “Já no ano passado alertamos para a possibilidade de uma raiz quadrada que seria a estabilidade, ou até mesmo uma queda, após o efeito do retorno ao antigo patamar. Os dados de hoje confirmam tal hipótese. Como podemos ver na série em índice dessazonalizado vemos a queda, a volta e depois a estabilidade”, escreveu em nota

 

Na avaliação de Perfeito, os números de março e de abril “devem vir piores dado a piora da pandemia e das medidas de restrição adotadas em alguns estados”.

 

“A situação não é favorável e os dados de confiança da FGV (Fundação Getulio Vargas) mostraram, ao longo dos últimos dias, uma piora significativa no humor do comércio, consumidores e indústria. Isto irá se verificar nos dados de março sem dúvida”, acrescentou.