Na avaliação de William Jackson, economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, o dado acumulado para o IPCA-15 de 2020 ficou abaixo do esperado pela consultoria, de 4,5%, e do consenso do mercado, de 4,35%, sugerindo que a prévia da inflação “já ultrapassou seu pico”, e, juntamente com novos casos covid-19, “pode retardar a recuperação econômica”. Com isso, o analista aposta em uma política monetária do Banco Central menos agressiva, ou seja, mais “dovish”, com início de alta da taxa básica de juros (Selic) de 0,50 ponto percentual no segundo semestre.
O dado do IPCA-15 de dezembro ficou 0,25 ponto percentual acima da taxa de novembro, de 0,81%, com destaque para o grupo de alimentos e bebidas, com impacto de 0,43 ponto percentual no indicador. Esse grupamento subiu 2%, em dezembro, e 14,36%, no acumulado em 12 meses. Foi maior a taxa para um ano desde 2002, quando registrou 18,11%.
De acordo com dados do IBGE, a prévia inflação de dezembro para o grupo dos alimentos foi impulsionada pelo aumento dos preços generalizados dos alimentos. Os itens para consumo no domicílio tiveram alta de 2,57%, com destaque para carnes (5,53%), arroz (4,96%) e frutas (3,62%). A batata-inglesa (17,96%) e o óleo de soja (7%). Entre as quedas no grupo, o tomate teve a maior delas, de 4,68%, seguida pelo alho, de 2,49%, e o leite longa vida, de 0,74%.
A segunda maior variação do mês veio do grupo habitação, de 1,50%, contribuindo com 0,23 ponto percentual no índice, puxado pela alta do item energia elétrica (4,08%), devido à volta da bandeira vermelha patamar 2 (com acréscimo de R$ 6,243 a cada 100 quilowatts-hora consumidos) após dez meses consecutivos de bandeira verde (em que não há cobrança adicional na conta de luz).
Conforme os dados do IBGE, a alimentação fora do domicílio passou de 0,87% em novembro para 0,58% em dezembro, principalmente em função da queda do lanche, de 0,11%, que no mês anterior apresentou alta de 1,92% . No sentido contrário, a refeição que subiu 0,86% neste mês frente ao resultado de 0,49% de novembro.
Na contramão, o grupo vestuário apresentou recuo de 0,44%, contribuindo negativamente em 0,02 ponto percentual no IPCA-15.
A mediana das estimativas do mercado para o IPCA de 2020, medida pelo boletim Focus, do Banco Central, passou de 4,35%, na semana passada, para 4,39%, nesta semana. Foi a 19ª alta consecutiva na projeção e mostra o indicador de inflação ficando acima do centro da meta determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4% anuais, com teto de 5,5%. Para o mês de dezembro, a mediana do mercado prevê alta de 1,22% no custo de vida.
Brasília tem menor taxa no mês
Brasília foi a capital brasileira que registrou a menor variação do IPCA-15 de dezembro, com alta de 0,81%. A lista de 11 cidades pesquisadas pelo IBGE foi liderada por Porto Alegre, com avanço de 1,53%, seguida por Rio de Janeiro, com inflação de 1,28%.
No acumulado do ano, Recife foi a capital com maior taxa do IPCA-15, de 5,02%. A menor ficou com Brasília, de 3,07%, conforme dados do IBGE, que registraram alta no custo de vida em todas as regiões da pesquisa.