PRESSÃO À VISTA

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O ajuste fiscal ainda está longe de dar os resultados esperados, mas parte do mercado financeiro começa a questionar o que fará o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para efetivamente cumprir as metas definidas por ele. Mais que isso: os analistas querem saber como o chefe da equipe econômica lidará com as pressões que tendem a aumentar sobre ele, diante da disparada do desemprego e da derrocada do Produto Interno Bruto (PIB).

Levy chegou ao governo dando demonstração de muita força. Mesmo bombardeado pelo PT, o partido da presidente Dilma Rousseff, ele não só ocupou espaço relevante no seleto grupo que tem acesso à chefe, como conseguiu virar de ponta- cabeça a política econômica, priorizando a arrumação das contas públicas sem abrir mão de medidas impopulares, como as que restringem o acesso ao seguro-desemprego, ao abono salarial e às pensões por morte.

O principal discurso do ministro para conquistar apoio foi o de que, em pouco tempo, o ajuste fiscal traria resultados positivos. A economia retomaria o fôlego e o país voltaria a crescer, um discurso com tom político que amainou a animosidade com parcela relevante do PT. O problema, ressalta Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Partners, é que, em vez de melhorar, o quadro econômico piorou muito e não há perspectiva de recuperação tão cedo.

O PIB caiu 0,2% no primeiro trimestre, mas esse tombo já estava na conta de todos — do governo, do mercado, dos políticos. Era o preço do ajuste, diziam. Junho ainda não fechou, mas os dados do segundo trimestre coletados pelos especialistas apontam para o pior dos mundos: queda de pelo menos 1,5% da atividade no período. Tal projeção, diz Eduardo Velho, incorpora a paralisação, quase que total, da produção das montadoras.

Nesse cenário de forte retração, o desemprego disparou. Até abril, foram fechadas 137,4 mil vagas formais. Em maio, já se fala em destruição de quase 100 mil postos com carteira assinada. Em junho, não será diferente. Esse movimento contrasta com a promessa de Dilma, de que o ajuste tocado por Levy tinha como objetivo maior preservar o emprego e a renda. Para o PT, tudo é aceitável — corte de gastos, aumento de juros e retração do PIB. Mas não o desemprego, que pode atingir 10% até o fim do ano.

À medida que os dados do mercado de trabalho forem saindo, a tendência é de o discurso petista anti-Levy se agigantar. Muitos parlamentares que arriscaram o pouco do prestígio popular que ainda tinham para apoiar à nova política econômica de Dilma não imaginavam que a fatura a ser paga seria tão pesada. Vão cobrar explicações, inclusive se o Brasil vier a ser rebaixado pelas agências de classificação de risco.

Na avaliação do economista da INVX, as pressões políticas tendem a enfraquecer ainda mais a presidente Dilma, o que, por tabela, atinge Levy. Nesse contexto, ficará bem mais difícil para o ministro da Fazenda levar adiante o ajuste fiscal, que dependerá de novas medidas. Não à toa, técnicos do governo veem com bons olhos a proposta do relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), senador Romero Jucá (PMDB-RR), de reduzir as metas de superavit primário deste ano, de 1,1% para 0,6% do PIB, e de 2016 e 2017, de 2% para 1% e 1,5%, respectivamente.

BC dá uma mostra

» Na sexta-feira, o Banco Central dará os primeiros indicativos do que foi o desempenho da economia no segundo trimestre do ano, ao mostrar queda do IBC-Br, índice que funciona como uma prévia do PIB. Pelos cálculos do economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, em abril, o indicador do BC tombou 0,4% ante março e 2,40% frente ao mesmo período do ano anterior.

Ainda longe do fundo do poço

» Tanto o Itaú Unibanco quanto a Serasa Experian constataram retração econômica em abril, indicando que o fundo do poço para o PIB ainda não chegou. Segundo os economistas do maior banco privado do país, houve retração de 0,1% no mês. Nas contas da Serasa, o encolhimento foi de 0,3%.

Planos de saúde sentem o baque

» As empresas que vendem planos de saúde já sentiram os efeitos da forte onda de demissões que toma conta do país. Pela primeira vez, em mais de uma década, os convênios coletivos empresariais vêm apresentando saldos negativos mês a mês. Esse mercado vinha crescendo nem média, 10% ao ano quando o país ostentava quase o pleno emprego.

Bicho-papão amarelou

» O Palácio do Planalto acredita que o fato de o Tribunal de Contas da União (TCU) ter amarelado e dado mais 30 dias para Dilma apresentar justificativas para as pedaladas fiscais enterrou, quase que completamente, as chances de as contas do governo de 2014 serem rejeitadas. Daqui por diante, dizem assessores palacianos, o processo de convencimento dos ministros da Corte que ainda querem punir a presidente será bem mais fácil. “O pior já passou”, ressalta um auxiliar de Dilma.

De olho no código

» Clóvis Torres Jr., diretor de Integridade Corporativa da Vale, assumiu a presidência do Conselho Diretor do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), entidade que está acompanhando, com lupa, o andamento do código mineral do Congresso.

Brasília, 00h10min