O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou, em conversa com jornalistas, estrangeiros, que rompeu com o filho, Nuno, por causa do caso das gêmeas brasileiras. O líder português está sendo investigado pelo Ministério Público, acusado de favorecer as meninas em um tratamento que custou 4 milhões de euros (mais de R$ 22 milhões) aos cofres públicos, a pedido do filho.
“Isso é imperdoável, porque ele sabe que eu tenho um cargo público e político, e pago por isso. Há coisas piores na vida. Não sei se ele vai ser responsabilizado, não me interessa. Essa é uma das vantagens de se cortar. Ele tem 51 anos, se fosse o meu neto mais velho e preferido, com 20 anos, eu me sentiria corresponsável. Mas, com 51 anos, é maior e vacinado”, afirmou.
Segundo Rebelo de Sousa, a relação com o filho, que vive no Brasil, já não andava boa havia meses, mas desandou de vez quando estourou o escândalo das gêmeas brasileiras no fim do ano passado. O rompimento foi tão sério, que, no último Natal, houve uma divisão na família. O presidente passou a noite de 24 para 25 em casa, longe de vários dos netos.
O distanciamento entre Rebelo de Sousa e o filho começou em uma viagem do presidente ao Brasil. Nuno havia marcado um encontro com vários políticos brasileiros para mostrar influência junto ao governo português. O presidente contou que, quando soube do que estava por trás, ficou extremamente chateado e acabou se distanciando do filho.
“Expliquei a um antigo presidente brasileiro, a presidentes de partidos, governadores que, se eu aceitasse que ele fosse, eles ficariam convencidos de que a melhor maneira de se chegar até a mim era através do filho. E o filho ficaria convencido de que a melhor maneira de chegar até eles era através de mim”, detalhou. “Isso veio pouco meses antes das gêmeas, o que mostrou o acerto da minha decisão (de romper com Nuno)”, acrescentou.
Ele contou que, quando foi procurado por Nuno, “que é teimoso, é de Leão”, sobre uma possível ajuda às gêmeas brasileiras, estava próximo de ser operado do coração. Acabou deixando o caso de lado, até porque a própria Casa Civil da Presidência da República já havia dito que não seria possível atender o pedido do filho.
Meses depois, Nuno ligou para o pai dizendo que a Casa Civil estava contra ele. “Argumentei que não era possível”, disse. Rebelo lembrou que o pedido do filho ocorreu em 2019, ano em que houve eleições. “Passa-se 2020, 2021, 2022, vem 2023, e vem o caso. Foi preciso recorrer à tecnologia para recuperar as mensagens (que havia trocado com o filho). Não me lembrava das gêmeas”, afirmou.
Quando estourou o caso das gêmeas, Portugal já estava em ebulição por causa do pedido de demissão do então primeiro-ministro, António Costa, acusado de corrupção. “Eu o consolava em relação caso dele, e ele me consolava no caso das gêmeas”, frisou, rindo. Depois, segundo ele, veio a questão do Ministério da Saúde, em que a então ministra, Marta Temido, lavou as mãos, e houve o bom senso de se pedir a investigação da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (Igas).
Para Rebelo de Sousa, “foi um período chato, de ter um filho com o qual não se tem relacionamento, e que vai continuar sendo chato enquanto for preciso”, que que está sendo investigado pelo Ministério Público. Mas ele destacou que o mais penalizador foi a divisão da família, não falar com um filho, que, antes do Natal, pousou em Lisboa disfarçado “com um boné” e óculos escuros.
O tratamento das gêmeas brasileiras, que têm nacionalidade portuguesa. foi aprovado com celeridade nunca vista e envolveu o medicamento mais caro do mundo, o zolgensma. As meninas são portadoras de uma doença rara, atrofia muscular espinhal (AME). A própria mãe delas admitiu que o acesso ao remédio só foi possível “graças a um pistolão”.