Não foi uma quinta-feira qualquer. Os números divulgados ontem por diversas instituições do governo podem ser vistos como um resumo do desastre da administração Dilma Rousseff. Qualquer que seja o indicador analisado, a constatação é assustadora. Vamos começar pelo desemprego.
Nos últimos anos, o que mais se ouviu do PT, o partido de Dilma, foi que a prioridade de qualquer governo deveria ser a proteção ao trabalhador. No período em que o país cresceu de forma contínua com a inflação sob controle, realmente o mercado de trabalho se expandiu de forma espetacular. Com taxas abaixo de 5%, o Brasil flertou com o pleno emprego.
Diante da decisão de Dilma de romper com a estabilidade e flertar com a inflação, o quadro começou a mudar — e para pior. Com a recessão batendo às portas do país, as empresas passaram a demitir. A cada mês que a economia afundava, o desemprego se mostrava mais presente.
No trimestre terminado em agosto, constatou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice de desocupação atingiu 8,7%, o nível mais elevado da série histórica da Pnad Contínua. Em 12 meses, 2 milhões de trabalhadores foram mandados embora. Somente entre junho e agosto, o mercado de trabalho se fechou para 647 mil pessoas. No total, 8,8 milhões de brasileiros estão sem qualquer fonte de renda.
O salário médio dos trabalhadores também não resistiu. Nos cálculos do IBGE, recuou 1,1% entre junho e agosto ante os três meses anteriores. Quem ainda está conseguindo uma vaga no mercado formal está sendo obrigado a aceitar rendimentos menores, mesmo que a qualificação seja elevada. Ou é isso, ou é o desemprego.
Divergências
Boa parte desse quadro desapontador tem a ver com a situação das contas públicas. Na avaliação dos agentes econômicos, enquanto o governo não arrumar as finanças do país, não haverá perspectiva de melhora. Ontem, o secretário do Tesouro Nacional, Marcelo Saintive, afirmou que, somente neste ano, o rombo do Tesouro Nacional será de R$ 110 bilhões.
Nem bem esse número foi divulgado, outras previsões surgiram, como a do deputado Hugo Leal, relator, no Congresso, do projeto de revisão da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) deste ano. Ele já fala em um buraco de R$ 117,9 bilhões. Essas divergências nos números só confirmam o quando as finanças do país então em frangalhos.
A falta de um ajuste fiscal consistente, que permita a volta da confiança no país, levou o Banco Central a engrossar a estatística do desastre de Dilma. A instituição admitiu ontem, na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que não sabe quando a inflação voltará para o centro da meta, de 4,5%. Por isso, os brasileiros devem se preparar: os juros de 14,25% ao ano, que já são os maiores do mundo, podem subir mais.
Tal possibilidade foi reforçada pelo presidente do BC, Alexandre Tombini, em conversa com deputados da Comissão de Finanças e Tributação. Segundo ele, quanto mais o governo demorar para ajustar suas contas, mais caro o país pagará. A autoridade monetária deu outro recado importante: na média, a energia elétrica subirá 51% neste ano e a gasolina, 15%.
Não se pode esquecer que, para iludir os eleitores e garantir a reeleição, Dilma prometeu que as tarifas de energia do Brasil estariam entre as mais baratas do mundo. O que se vê, porém, é exatamente o inverso. No caso da gasolina, o governo represou o preço o quanto pôde para evitar que a inflação estourasse o teto da meta, de 6,5%. Bastaram os reajustes acontecerem para que a inflação disparasse para 10%.
Em meio a tanta notícia ruim, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) revelou que as famílias serão obrigadas a enfrentar o desemprego e a queda da renda mais endividadas. Há um ano, 60,2% dos lares tinham algum tipo de débito. Agora, são 62,1%. Boa parte das famílias não sabem mais como honrar os compromissos em dia. Atrasos em contas básicas, como as de água e luz, tornaram-se rotina.
Fragilidade
A conjunção desses fatores ajuda a explicar o descontentamento da população com o governo, que ostenta aprovação de apenas 8,8%, a pior desde a redemocratização do país. Os números não mentem, mas é na vida real, nas idas aos supermercados, sobretudo, que as pessoas sentem como a situação está difícil. O governo garante que dias melhores estão por vir, mas, antes que isso aconteça, vai piorar muito.
As estimativas são de inflação acima do teto da meta em 2016, queda de pelo menos 2% do Produto Interno Bruto (PIB), rombo fiscal de 1% do PIB e desemprego de 10%. Nesse contexto, não há como esperar recuperação da popularidade de Dilma, o que agravará mais o quadro. Uma presidente fraca será incapaz de fazer os ajustes de que o país tanto precisa para voltar a crescer e a gerar empregos.
Interesses de Lula
» Causou surpresa no Ministério da Fazenda a repentina defesa que o ex-presidente Lula fez de Joaquim Levy e do ajuste fiscal durante convenção do PT. Até a semana passada, o líder petista era o maior defensor da demissão do ministro.
Sobrevida de Levy
» Com Lula bajulando Levy, acreditam assessores da Fazenda, o ministro, que chegou a escrever uma carta de demissão, ganhou sobrevida. Ninguém se arrisca, porém, a dizer até quando vai durar o apoio do petista ao ajuste fiscal.