Poupança perde para a inflação e registra saída recorde em janeiro

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

 

A caderneta de poupança registrou volume recorde de retiradas devido ao baixo rendimento e isso pode ser um problema para a retomada do crescimento da economia neste ano. Em janeiro, mês em que muitos brasileiros costumam sacar da caderneta para quitar dívidas, a diferença entre depósitos e saques da caderneta ficou negativa em R$ 12,356 bilhões, o pior resultado desde 1995, início da série do Banco Central, conforme dados divulgados nesta quinta-feira (06/02). 

 

O segundo maior deficit da caderneta para o primeiro mês do ano, de R$ 12,031 bilhões, foi registrado em 2016, conforme dados do Banco Central. Em 31 de janeiro, o saldo total da caderneta ficou em R$ 835,614 bilhões e a tendência, segundo especialistas, é de novas retiradas e isso poderá comprometer justamente um dos motores do crescimento da economia neste ano: a construção civil, que começou finalmente a se recuperar no ano passado.

 

Desde maio de 2012, a regra remuneração da poupança mudou e os novos depósitos passaram a ter um rendimento de 70% da Selic quando ela fica abaixo de 8,5% anuais. Logo, com a taxa básica de juros (Selic), agora em 4,25% ao ano, a caderneta rende 2,98% ao ano e, portanto, quem deixa dinheiro parado lá está perdendo para a inflação. Pela mediana das projeções do mercado, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá encerrar o ano com alta de 3,4%.

 

De acordo com o diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira, janeiro é um mês em que os brasileiros costumam sacar dinheiro da poupança para quitar dívidas do cartão de crédito contraídas no fim de ano e também para pagar as contas tradicionais que vencem no primeiro mês ano, como IPVA, IPTU e matrícula escolar. Contudo, ele lembra que há um componente a mais para explicar esse volume recorde: o baixo rendimento da poupança. “A caderneta e outras aplicações de renda fixa, como fundos e Tesouro Direto, já estão tendo rendimento negativo. Acredito que essa regra da poupança vai precisar ser revista pelo governo, pois ela é o principal financiador da construção civil. Com a poupança menos atraente, esses recursos vão diminuir e isso poderá prejudicar a retomada da economia quando construtores forem buscar recursos para investimentos de imóveis residenciais”, alertou.