POLÍTICA DA DESTRUIÇÃO

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O Brasil dá sinais de que escolheu o caminho da destruição. Não bastasse a economia estar caminhando para a depressão — o Produto Interno Bruto (PIB) cai há seis trimestres seguidos na comparação com o mesmo período do ano anterior —, o país terá, agora, que conviver com o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Estamos entrando em um túnel de enormes incertezas, sem saber o que encontraremos no fim do caminho.

 

Não há dúvidas de que Dilma cometeu muitos erros tanto do ponto de vista político quanto do econômico. O partido dela, o PT, comandou o maior esquema de corrupção da história no país, ao surrupiar o caixa da Petrobras. Mas não há como ver legitimidade na decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de acatar o pedido de abertura do processo de impedimento da petista. Envolvido até o pescoço com a roubalheira na maior empresa brasileira, ele está agindo por vingança. Sabe que está prestes a cair e acredita ser possível levar muita gente junto, sobretudo Dilma.

 

O processo de impeachment ainda terá que ser acolhido em plenário do Congresso, o que exigirá grande negociação, mas, desde já, as incertezas, que eram enormes, colocam o Brasil em suspense. O país vai parar de vez, até que se tenha uma decisão sobre os rumos do governo. O peso da desconfiança ficou latente no PIB do terceiro trimestre, quando os investimentos produtivos caíram 15% frente aos mesmos meses de 2014.

 

Empresários não investem em um ambiente de incertezas. Os consumidores não compram sem a garantia de que terão emprego mais à frente. O filme que já era ruim, vai se tornar aterrorizante. “Se o plenário da Câmara endossar o processo de impeachment, é melhor esquecer qualquer possibilidade de reação da economia no segundo semestre de 2016”, diz um técnico graduado do Ministério da Fazenda. “Em vez de recessão, veremos depressão econômica, com sérios riscos de convulsão social”, acrescenta. Um quadro inimaginável para um país que, até bem pouco tempo, era citado como exemplo pelo mundo.

 

Embate ideológico

 

Há um equívoco entre investidores, especialmente os estrangeiros, de que a condução do processo de impeachment será rápido e, com isso, as incertezas vão se dissipar e o país voltará à normalidade e ao crescimento. Ledo engano. O Brasil está mergulhando em uma guerra política fratricida. O PT é um partido com ampla base e não se intimidará em chamá-la para as ruas caso haja chances concretas de Dilma ser afastada da Presidência da República. O embate ideológico, que já está latente, ganhará proporções com potencial para enterrar de vez a economia.

 

Dilma, sabe que está em franca desvantagem na guerra declarada por Cunha. É a presidente mais impopular desde a redemocratização do país. Se o movimento pró-impeachment ganhar as ruas, será difícil convencer os parlamentares a não endossá-lo. Mesmo quando esteve em situação de vantagem, a petista conseguiu manter um bom diálogo com o Congresso. “A salvação de Dilma está na desgraça de Cunha. Se ele cair rapidamente, não haverá argumentos para os parlamentares apoiarem um colega cassado por corrupção”, afirma um ministro muito próximo da presidente, que viu como “extremamente positiva”, a aprovação, ontem, da meta fiscal deste ano. “Foi uma vitória muito importante, mostrando que o impeachment não será aprovado tão rápido”, destaca.

 

Em se tratando de política, não dá para ter confiança em nada. Brasília é uma caixa de surpresas. O que se viu nas últimas semanas, com prisões de figuras importantes da República e do mercado financeiro e com negociatas para garantir o poder, indica que o imprevisível se tornou regra. A Operação Lava-Jato virou o mundo dos poderosos de cabeça para baixo.

 

Falta de liderança

 

Nesse ambiente tão complexo, a pergunta que todos estão se fazendo é o que pode ser o pós-Dilma. Não há, hoje, um líder com carisma para assumir o país disposto a fazer o que precisa ser feito. Na situação em que a economia se encontra, são necessárias medidas muito impopulares para arrumar a casa. Mesmo no auge do apoio dos eleitores, nenhum dos presidentes que comandaram o Brasil nos últimos anos teve coragem de fazer as reformas que podem tirar o país do atraso.

 

É possível que os mercados tenham um dia de euforia hoje — há um desejo enorme de se ver Dilma saindo pelas portas dos fundos do Palácio do Planalto. Mas é bom se preparar para a decepção. A presidente foi eleita democraticamente, terá amplo direito de defesa e acredita que conseguirá chegar viva até 2018 por não ter nada que a desabone. O jogo ainda só está no aquecimento. A única coisa certa é que a fatura sairá muito cara à população, qualquer que seja o resultado.

 
Da euforia à decepção

 

» A equipe econômica entrou em polvorosa com o anúncio de Eduardo Cunha de acatar o pedido de abertura de impeachment de Dilma. Muitos ainda comemoravam a aprovação da meta fiscal deste ano, de rombo de até R$ 119,9 bilhões.

 

Linha com o Caribe

 

» A TAM inaugura, no sábado, seu segundo destino caribenho. A companhia passará a ligar Brasília a Punta Cana, na República Dominicana, em voos diretos, quatro vezes por semana. A TAM já voa da capital do país para Orlando e Buenos Aires.

 

Brasília, 08h30min