Planalto de olho no Banco Central por definição de juros

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HAMILTON FERRARI

Como espera uma notícia positiva na área econômica, o presidente Jair Bolsonaro tem defendido, nos bastidores, uma redução mais forte da taxa Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que ocorre entre hoje e amanhã. Depois da aprovação da reforma da Previdência no primeiro turno na Câmara e do anúncio de liberação do saque de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), o chefe do Executivo se anima com a possibilidade de corte de 0,5 ponto percentual nos juros, levando para a mínima histórica.

A decisão cairia em boa hora, já que o Banco Central (BC) divulgou, na sexta, que as taxas cobradas pelos bancos no rotativo do cartão de crédito e do cheque especial superaram os 300% ao ano. Os diretores da autoridade monetária vão se reunir para definir o corte, dado como certo no mercado. O Planalto tem pressa para que a economia engate e quer criar uma agenda de resultados econômicos positivos.

Em 6,5% ao ano desde março de 2018, a Selic está no menor patamar da história, mas ainda em nível insuficiente para aquecer a economia. Tanto é que o país deve acumular nove meses consecutivos de estagnação. Depois do Produto Interno Bruto (PIB) ter crescido 0,5% no terceiro trimestre no ano passado, os dois seguintes tiveram resultados desanimadores: alta de 0,1% e queda de 0,2%, respectivamente.

Desejo

Analistas estimam que, para o segundo trimestre deste ano, o resultado deve ser parecido. Bolsonaro se reuniu com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, antes da divulgação das medidas para liberar o saque das contas ativas e inativas do FGTS. Durante o encontro, não tratou sobre juros, mas, para assessores, há uma demonstração clara de que o presidente deseja poder apresentar taxas menores à sociedade.

O mercado está dividido sobre a queda dos juros, pois não se sabe se o que vai prevalecer é uma postura mais conservadora, alinhada ao perfil de Campos Neto, ou mais arrojada, como deseja Bolsonaro.

“O BC precisa adotar uma postura mais conservadora, quando começa um ciclo de queda de juros, começando com corte de 0,25 ponto percentual. Mas não é o caso. Apesar de o presidente ser novo, o BC vem com confiança e credibilidade herdadas da gestão do Ilan (Goldfajn)”, diz o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa.

O sócio do ModalMais, Álvaro Bandeira, aposta em corte de 0,5 ponto percentual para o cenário atual. “A diminuição dos juros tem efeito adicional na dívida pública. Em junho, as taxas aumentaram o endividamento do governo em R$ 19 bilhões. Num cenário que temos quase R$ 4 trilhões em pendências, ia ajudar a suavizar a evolução do estoque”, disse.

Brasília, 11h04min

Vicente Nunes