Piora nas perspectivas faz Bolsa cair e dólar subir e ficar perto de R$ 5

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ROSANA HESSEL

Enquanto as bolsas europeias e norte-americanas continuam no vermelho e não se empolgam como as asiáticas com a perspectiva de um pacote de estímulo do governo chinês para a desaceleração em curso da China devido aos bloqueios provocados pela covid-19, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3), opera no vermelho, nesta terça-feira (26/4), e retoma patamares abaixo de 109 mil pontos. Já o dólar volta a subir e encosta em R$ 5.

Após encerrar a segunda-feira (25/4) com queda de 0,35% a 110.685 pontos, o Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da B3, abriu o pregão de hoje novamente no campo negativo em meio à piora nas perspectivas dos mercados interno e externo. Por volta das 13h, escorregava 1,76%, a 108.731 pontos, com as ações de Banco Inter e CVC Brasil liderando as perdas, acima de 6% e de 5,50%, respectivamente.

Enquanto isso, o dólar volta a subir e encosta em R$ 5 em meio ao aumento das preocupações com a inflação global, que continua persistente. Às 13h25, a divisa norte-americana subia 1,70% e era cotado a R$ 4,959.

O mau humor dos operadores do mercado de ações brasileiro refletiu, em grande parte, a frustração com os indicadores norte-americanos negativos, de acordo com Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos. Conforme dados do Conference Board, o índice de confiança do consumidor caiu para 107,3 este mês, de leitura revisada para cima de 107,6 em março. “A confiança do consumidor recuou para 107,3 e o mercado esperava esperava alta para 108,5. E as vendas de moradias caíram 8,6%. acima das projeções de recuo de 0,3%”, destacou Cruz.

O analista lembrou que a retomada das publicações do Boletim Focus, do Banco Central, não foi muito animadora, com perspectivas de juros maiores e inflação também, chegando perto de 8% no fim deste ano, mais do que o dobro da meta, de 3,5%.  “O Boletim Focus já mostra uma perspectiva de juros maiores por um período maior.  A Bolsa enfrentará mais concorrência das aplicações em renda fixa”, destacou.

Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos, ressaltou que a convergência de correção do mercado de ações com o impacto restritivo da perspectiva de alta dos juros nos Estados Unidos é crescente, devendo retirar o fluxo de dólares para as economias emergentes. “A expectativa de inflação está aumentando, mas nossas previsões prosseguem mais altas, superior à 8%, em 2022, e  próxima de 5% para 2023”, destacou.

Riscos maiores

E, para complementar esse cenário nada animador para o mercado de ações no Brasil neste ano, um relatório divulgado nesta terça-feira, o Credit Suisse fez um alerta sobre o risco do processo de desinflação no Brasil devido a um aperto mais rápido da política monetária dos Estados Unidos. Na semana passada, Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) sinalizou que a instituição deverá acelerar o ritmo de alta dos juros na maior potência global.

“O agravamento da inflação nos EUA, e em outros mercados desenvolvidos, que atingiu o nível mais alto em 40 anos e é generalizado, está levantando preocupações entre os participantes do mercado de que a taxa de fundos do Fed dos EUA possa ter que ser elevada para um nível muito superior ao taxa de juros neutra”, destacou. Segundo o documento, “há riscos claros de que a inflação fique acima do limite superior da meta de inflação do Banco Central em 2023 pelo terceiro ano consecutivo”. Pelas estimativas do banco suíço, o BC deverá elevar a Selic até agosto, quando ela deverá chegar a 14%.

Vicente Nunes