PIB mais fraco aumenta apostas em novo corte dos juros

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O crescimento mais fraco do Produto Interno Bruto (PIB), sobretudo por causa da perda de força no consumo das famílias, fez um grupo de economistas ampliar as apostas em mais um corte da taxa básica de juros (Selic), de 6,75% para 6,50%. Mesmo os mais radicais, que alertavam para os perigos de o Banco Central reduzir demais da Selic, passaram a prever  baixa dos juros. É o caso de Tony Volpon, economista-chefe do banco suíço UBS.

Segundo Volpon, a combinação de expansão mais lenta da atividade com inflação menor permitirá o Comitê de Política Monetária (Copom) a avançar o sinal na reunião deste mês sem colocar em risco o controle dos preços. O economista diz que a porta para a redução dos juros foi fechada pelo BC, mas não está lacrada. Ele estima crescimento econômico de 3,3% para este ano, acima da média do mercado, que projeta 2,9%.

Há boas e más notícias no resultado do PIB de 2017, que avançou 1%. A melhor delas, que os investimentos produtivos interromperam uma longa sequência de quedas trimestrais. Nos últimos três meses do ano passado, a formação bruta de capital fixo cresceu 2% ante os três meses imediatamente anteriores. Isso, no entanto, não impediu que a taxa de investimentos em relação ao PIB cedesse para 15,6%, o menor nível da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A má notícia é que consumo das famílias perdeu força. Os lares se aproveitaram da liberação de recursos extras, como os das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), e da forte queda da inflação para irem às compras. Essa disposição foi vital para tirar o país da recessão. Agora, porém, o poder de compra está se esgotando, mesmo com a inflação permanecendo baixa. No último trimestre de 2017, o consumo das famílias subiu 0,1% frente aos três meses anteriores.

O que as famílias precisam, agora, é de emprego e de crédito. Há 12,7 milhões de pessoas sem trabalho no país e quase 14 milhões subempregadas. Com esse exército de trabalhadores sem condições de levarem dinheiro para casa, fica difícil pensar em um consumo forte e consistente. Além disso, os bancos, em vez de reduzirem as taxas de juros de empréstimos e financiamentos, as elevaram. Sem crédito a juros mais acessíveis, não há como se falar em aumento das compras de bens de consumo.

Portanto, ainda há muitos nós a serem desatados para se falar em crescimento mais forte da economia. É possível que, em vez de reverem para cima as projeções de expansão do PIB em 2018, os especialistas tenham que ajustá-las para baixo, para mais próximo de 2,5% e não de 3%, como alardeia o governo.

Brasília, 12h26min

Vicente Nunes