PIB e inflação maiores colocam mais pressão sobre o BC, alerta MB

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ROSANA HESSEL

As recentes revisões do mercado para um crescimento mais robusto no Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, podendo chegar a 6%, e o aumento das pressões inflacionárias vão colocar pressão sobre o Banco Central nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), na avaliação do economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.

Em relatório divulgado nesta segunda-feira (07/06), o especialista destacou que a aceleração da inflação tem se dado por choques acumulados em alimentos, combustı́veis e energia “que acabam por se retroalimentar e ser menos temporários do que se
imaginaria”. “Como o BC tem dado sinais recorrentes de acreditar que esses choques temporários tenderiam a se dispersar nos
próximos meses, não haveria necessidade de uma condução mais agressiva da política monetária”, afirmou. A próxima reunião do Copom está prevista para os dias 15 e 16 deste mês.

O economista ainda alertou que o hiato do produto — indicador que mede o grau de ociosidade da economia e a distância da atividade do PIB potencial — não poderá ser utilizado como desculpa para o BC manter o discurso de ajuste parcial na política monetária. Os dados de atividade não deixam de corroborar que a situação ainda seria favorável para a inflação. Isso porque nossa modelagem de hiato do produto ainda mostra uma distância de 1,6% do PIB potencial, o que ajudaria no discurso do BC de que passados os choques a inflação voltaria ao normal”, destacou Vale, que está mais conservador em suas projeções para o PIB deste ano e prevê alta de 4,1%. Segundo ele, esse hiato está mais atrelado ao hiato da taxa de desemprego, que é crescente neste ano, porque a criação de vagas no mercado formal não é suficiente para evitar que a taxa de desocupados continue crescendo.

“Esse hiato ainda negativo ajudaria a dar argumentos para o BC de que a atividade está fraca e, por conta disso, ajudaria na composição da inflação e, portanto, o Copom não precisaria subir tanto os juros. Mas os diversos choques inflacionários estão colocando pressão sobre o BC, que está em uma situação mais complicada agora”, alertou Vale, em entrevista ao Blog. Para ele, o BC vai continuar elevando a taxa básica de juros (Selic), atualmente em 3,5%, para 4,25% neste ano, e, sem interromper o ciclo de alta no ano até chegar a 6,5% ao ano em dezembro.

Pelos cálculos de Vale, a inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), poderá chegar a 8% no acumulado em 12 meses até junho e não vai contribuir para o BC começar a sinalizar uma preocupação maior com a inflação. Ele estima o IPCA encerrando o ano em 5,80%, acima do teto da meta de inflação, de 5,25% anuais. Conforme dados do boletim Focus, do Banco Central, divulgado hoje, a mediana das projeções de inflação passou de 5,31% ao ano, há uma semana, para 5,44%.  Já as previsões para a expansão do PIB de 2021 passaram de 3,96% para 4,36%, na mesma base de comparação.

Vale não está sozinho nessa aposta de que o BC não vai conseguir interromper o ciclo de alta da Selic até 5,5%, como vinha sinalizando, ou seja, abaixo do limite da taxa de juros estimulativa, de 6,5%. Em entrevista ao Correio publicada nesta segunda-feira, o head da área de Pesquisas do Bradesco BBI, André Carvalho, também não acha que o BC vai fazer um ajuste parcial, como vem sinalizando nas últimas reuniões do Copom. “Ele vai acabar desistindo dessa estratégia e elevando a Selic sem parar até 7%, em março de 2022”, apostou.

Por conta do PIB melhor e da inflação mais alta, Sergio Vale também revisou a projeção anterior para a dívida pública bruta, que vai diminuir neste ano em relação ao ano passado, devido ao aumento no denominador, o PIB nominal.  “Com o crescimento mais forte os números das contas públicas tendem a melhorar do ponto de vista de arrecadação e na comparação com o PIB. De fato, no pior momento da crise do ano passado, o cenário fiscal apontava riscos elevados de a dı́vida bruta passar de 100% do PIB. Mas depois de atingir 89,2%, em 2020, neste ano, terá queda, para algo em torno de 86,8% do PIB. Com o mercado precificando crescimento de até 6% o impacto na arrecadação e na dı́vida não seria pequeno e, com isso, ela poderia terminar este ano em 85% do PIB”, afirmou.

O economista da MB lembrou que, em 2022, a dívida bruta voltará a subir. “A dívida melhora neste ano, mas piora ano que vem de novo, para 89% do PIB”, frisou.  Ele ainda reforçou o alerta para o controle das contas  públicas não apenas no ano eleitoral. “De qualquer maneira, cria-se uma margem de fôlego para a condução da política  fiscal, mas abre a discussão sobre que política fiscal o país terá a partir de 2023. A falsa impressão de que está tudo bem pode dar espaço para as ‘vivandeiras alvoroçadas’ atiçarem mudanças inadequadas das regras fiscais”, alertou. Pelas projeções de Vale, essa dívida bruta elevada ainda continuará influenciando o câmbio, que seguirá valorizado, com o dólar cotado a R$ 5,30, no fim deste ano, e a R$ 5,60, no fim do ano que vem.

Vicente Nunes