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PIB dos EUA desacelera no 1º trimestre e analistas não descartam recessão

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

 

A economia dos Estados Unidos registrou crescimento de 1,1% no primeiro trimestre de 2023, conforme a estimativa “antecipada” do Bureau of Economic Analysis (BEA), órgão do Departamento de Comércio dos EUA equivalente ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

O dado ficou abaixo das estimativas do mercado, que giravam em torno de 1,7% e 2,3%, e especialistas não descartam o risco de uma leve recessão ao longo do ano na maior economia do planeta. O resultado do PIB dos EUA apresenta desaceleração em relação ao crescimento de 2,6% registrado na mesma taxa anualizada no quatro trimestre de 2022. Na comparação com o primeiro trimestre de 2022, o indicador cresceu 1,6%.

 

“O aumento do PIB real refletiu aumentos nos gastos do consumidor, exportações, gastos do governo federal, gastos dos governos estaduais e locais e investimento fixo não residencial que foram parcialmente compensados por reduções no investimento em estoque privado e no investimento fixo residencial”, destacou o BEA, no comunicado divulgado hoje. 

 

Enquanto o consumo das famílias e do governo cresceram nas taxas anualizadas do primeiro trimestre do ano 3,7% e 4,7%, respectivamente, os investimentos no mercado doméstico desabaram 12,5% na mesma base de comparação. Foi a maior queda desde o segundo trimestre de 2020, de 48,8%.

 

 

Aperto monetário

 

 

Francisco Nobre, economista da XP, ressaltou o mercado financeiro mais restrito como um dos fatores para a continuidade da desaceleração da economia norte-americana. Ele não descarta o risco de uma recessão neste ano, por conta do aperto da política monetária em curso.

 

Daqui para frente, esperamos que a economia dos EUA continue desacelerando em meio a condições financeiras apertadas, e os dados recentes são consistentes com nosso cenário básico de uma recessão leve este ano. Para o ano de 2023, projetamos uma expansão do PIB de 0,5%”, afirmou, em relatório aos clientes, o analista da XP, que previa alta de 1,7% no PIB dos EUA nos primeiros três meses de 2023.

 

Pelas estimativas de Nobre, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), está próximo do fim de seu ciclo de aperto monetário, mas “o efeito cumulativo da política de alta de juros ficará cada vez mais evidente ao longo do ano, dado o caráter defasado dessa ferramenta”. “Na verdade, a maioria dos indicadores de alta frequência sugere que a economia dos EUA tem enfraquecido consideravelmente nos últimos meses, o que é consistente com nosso cenário básico de uma recessão leve este ano”, acrescentou o analista.

 

Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, lembrou que o dado acabou vindo abaixo do esperado pelo mercado, em torno de 2% e 2,3%, e acentuou o processo de desaceleração da economia dos EUA que está em curso. Depois de crescer 3,2%, no terceiro trimestre de 2022, o PIB norte-americano reduziu o ritmo para 2,6%, no último trimestre do ano passado e, agora, passou para 1,1%, nas taxas anualizadas. Ele espera que os investimentos nos estoques das indústrias melhorem nos trimestres seguintes. “Não dá para ficar caindo tanto por muito tempo”, frisou. 

 

Para Cruz, o resultado do PIB também refletiu a queda do dólar contra as principais moedas, devido à busca por ativos de risco pelas bolsas norte-americanas. Contudo, ele acha que ainda vai demorar para o Fed baixar os juros. A aposta dele para a próxima reunião do Fomc, comitê de política monetária dos EUA, haverá uma nova alta de 0,25 ponto percentual na semana que vem, elevando o intervalo dos juros básicos norte-americanos de 4,75% e 5% para 5% e 5,2% ao ano.

 

“Não sei se o Fed já vai sinalizar nessa reunião que vai pausar ou simplesmente vai falar que vai acompanhar. Mas ele vai ter que começar a lutar contra o mercado que está precificando o corte de juros já em setembro deste ano. Mas acho que, pelas exposições dos dirigentes do Fed, eles entendem que é necessário aguardar até o ano que vem para fazer esse tipo de movimento de queda dos juros. Pois, se fizer isso agora, pode ser muito precipitado, e o Fed corre o risco de cometer aquele erro da década de 1970, 1980 dos Estados Unidos, quando foi preciso subir a taxa de juros acima do plano inicial”, afirmou.