PIB do 2º trimestre mostrará os últimos suspiros da recessão

Publicado em Economia

POR PAULO SILVA PINTO E ANTONIO TEMÓTEO

 

A recessão que o país atravessa, a maior de sua história, é o sujeito oculto do processo de impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff. Se não fosse o atual quadro de desemprego recorde e de redução da renda, haveria menos combustível político para removê-la do Palácio do Planalto. E, sem a queda de arrecadação do ano passado, não seria possível condená-la pelos decretos de suplementação orçamentária.

 

Por uma coincidência que talvez historiadores registrem um dia com ênfase, a recessão entrará novamente em cena poucas horas depois do epílogo do impeachment. Está prevista para a madrugada de quarta-feira a votação que, segundo os prognósticos, encerrará o mandato de Dilma. E, às 9h em ponto, na sede do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), será anunciada a variação do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre do ano.

Para quase todos os analistas de mercado, não há dúvidas de que o número será ruim. Espera-se queda de pelo menos 0,3% em relação aos primeiros três meses do ano, o que, se ocorrer, será o mesmo resultado registrado no período anterior. Os prognósticos mais graves vão até um tombo de 0,7%.

 

Mas, por pior que seja o resultado, ele não assusta o Planalto e o Ministério da Fazenda. Já existe uma explicação pronta no governo que, quando sair o PIB, poderá não ser mais interino. O que se vai dizer é que o número mostra um passado agora distante. Afinal, estará ainda contaminado pelo desempenho econômico de abril. E será, possivelmente, a última cena da recessão. No período em que estamos hoje, o terceiro trimestre, espera-se resultado igual a zero. Nos últimos três meses, a tendência é de que o saldo seja positivo.

 

Segurança

 

Poucos duvidam, porém, de que a variação a ser divulgada na próxima quarta-feira seja assustadora. Na estimativa do economista Rodrigo Miyamoto, do Itaú Unibanco, o PIB recuou pela sexta vez consecutiva no segundo trimestre. Pela ótica da oferta, ele projeta nova queda em serviços e a interrupção da sequência de contrações na indústria; pelo lado da demanda, vê retração no consumo das famílias. Miyamoto espera retração de 0,6% no segundo trimestre.

 

Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra, prevê algo ainda pior: 0,7% de queda no trimestre, na extremidade mais pessimista dos prognósticos. Na avaliação dele, a queda no setor de serviços, especialmente no comércio, que demorou mais para sentir a recessão, será o principal responsável pelo resultado ruim. Ele discorda dos que veem o segundo trimestre como o fundo do poço da economia brasileira — estima que a queda do PIB tenha contaminado também o período seguinte.

 

A segurança da resposta do governo a esses resultados desalentadores está no fato de que, desde maio, quando foi aprovado o impeachment, caiu quase à metade o risco associado ao país no mercado global, medido pelo CDS, os credit default swaps, operações financeiras que servem de proteção aos investidores. A confiança dos empresários e consumidores se recuperou fortemente — no caso dos industriais, o índice passou do campo negativo para o positivo. Os índices que sugerem o início do processo de recuperação da economia, que só se traduzirá em sinal positivo no PIB do quarto trimestre, segundo a expectativa oficial do Ministério da Fazenda.

 

Analistas de mercado chamam a atenção para os primeiros sinais de retomada dos investimentos. “A produção de bens de capital é um sinal importante, porque mostra que algumas empresas já começaram a comprar máquinas para melhorar ou ampliar a produção”, nota Eduardo Velho, economista-chefe da A2A INVX Global, que vê queda de 0,3% no PIB no segundo trimestre. Ele lembra que, de maio para junho, a produção industrial cresceu 1,1%. É um aumento ainda tímido, mas alentador diante da pasmaceira que se via desde 2014. No caso dos produtores de máquinas e equipamentos, o aumento foi bem maior, de 2,1%.

 

Ventos mudaram

 

Analistas usam diferentes modelos para fazer prognósticos. Na fórmula usada por André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, a alta da indústria resultou até mesmo em alta do PIB do segundo trimestre, de 0,6%. Ainda que esteja em discordância da média, é um sinal expressivo de que os ventos mudaram, mesmo que não se saiba com que intensidade e por quanto tempo. “Não se trata de otimismo. Tanto que eu acho que, no terceiro trimestre, haverá nova queda, devido à valorização do real frente ao dólar. Isso deve tirar o fôlego das exportações,  responsáveis pelo impulso dos últimos meses”, argumenta.

 

Do mercado interno, que foi o motor do crescimento antes de o país mergulhar na recessão, não se pode esperar muito, por enquanto. “É difícil prever uma alta forte do consumo quando se considera que as pessoas estão endividadas e, em muitos casos, desempregadas”, nota o economista-chefe da Quantitas Asset Management, Ivo Chermont. Ele prevê queda de 0,3% no  2º trimestre.

 

É difícil de acreditar que algumas empresas já estejam aplicando recursos em meio a tantas dificuldades e incertezas. Mas, em muitos casos, isso está acontecendo. “O investimento sai na frente do consumo”, nota o economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros. Ele explica que empresas de setores mais dinâmicos se preparam antecipadamente para a alta da demanda. “A variável-chave é a confiança, que tem subido”, diz.

 

Para o governo, a retomada dos investimentos será o motor do crescimento. “Muitos projetos que estavam na gaveta serão retomados. Quando a economia vai mal, o investimento cai mais do que a média.Quando vai bem, sobe mais do que os outros itens”, afirma um integrante da equipe econômica. Quanto ao próximo ano, a Fazenda elevou a expectativa de crescimento de 1,2% para 1,6%. Ainda é um número mais alto que a média do mercado, de 1,2%.

 

Brasília, 10h01min