ROSANA HESSEL
Em meio ao sobe e desce da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) crescem as suspeitas de manipulação do mercado por autoridades do governo, inclusive, o presidente Jair Bolsonaro, que antecipou, no último domingo (27), o novo reajuste de preços da estatal. A companhia, no entanto, nega.
Após a publicação de matérias na imprensa sobre o assunto, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pediu explicações para a estatal, que encaminhou uma resposta, na noite de ontem, minimizando o problema e negando o vazamento de informação privilegiada ao presidente. Para a empresa, “o presidente manifestou a expectativa de aumento no preço dos combustíveis”. “A Petrobras esclarece que ajustes de preços de produtos são realizados no curso normal de seus negócios e seguem as suas políticas comerciais vigentes. Dessa forma, a companhia entende que esses atos de gestão não constituem Fatos Relevantes”, escreveu a estatal no documento enviado ao órgão regulador.
A Petrobras ainda acrescentou que “a influência do movimento do mercado internacional de petróleo e da taxa de câmbio nos preços de seus produtos é constantemente analisada pelos participantes do mercado e noticiada pela imprensa”. “Ademais, a companhia já havia anunciado que os ajustes de diesel e gasolina realizados, respectivamente, em 28 de setembro e 08 de outubro de 2021, refletiam somente parte da elevação nos patamares internacionais de preços de petróleo e da taxa de câmbio do período”, disse.
Procurada, a CVM informou que o processo em relação ao assunto está sendo analisado pela autarquia, mas evitou comentar a resposta da Petrobras. “A CVM não comenta casos específicos”, sintetizou.
Por ter ações negociadas na Bolsa, a Petrobras precisa ser transparente e fornecer informações de forma clara para todos, sem privilégios, a fim de evitar perdas para os acionistas minoritários, pois o controlador é a União. Nos Estados Unidos, onde os órgãos reguladores bastante atentos a esse tipo de movimento, o vazamento de informação privilegiada ou de boatos para manipulação dos preços das ações para benefício individual pode resultar em cadeia dos envolvidos. Mas tudo indica que, aqui no Brasil, tudo acaba em pizza mesmo, infelizmente.
Vale lembrar que, em função da tendência de alta do preço do petróleo no mercado externo e do dólar cada vez mais valorizado, refletindo o aumento da desconfiança no governo, a tendência é de que os reajustes da Petrobras devem continuar por um período prolongado. E, se a estatal continuar com uma defasagem elevada entre os preços internos e os praticados lá fora, é provável que, de acordo com os distribuidores, que, no próximo mês, possa ocorrer problemas de abastecimento, pois a estatal vem reduzindo as cotas para a venda de combustíveis para minimizar as perdas com importação. Já as revendas não querem importar, porque o produto está mais caro lá fora do que no mercado interno. Aliás, os distribuidores já alertaram sobre problemas para comprar diesel e gasolina no Distrito Federal e em Goiânia.