PERTO DO FIM

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Faltando duas semanas para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a taxa básica de juros (Selic) entrou no debate dentro do governo. Parcela importante de integrantes da equipe econômica acredita que o Banco Central dará, em 29 de julho, mais uma alta nos juros e encerrará o processo de arrocho retomado três dias depois de as urnas ratificarem o segundo mandato à presidente Dilma Rousseff, em outubro de 2014.

A aposta majoritária entre os técnicos do governo é de que o BC elevará a Selic em mais 0,25 ponto percentual, para 14% ao ano, sem, no entanto, explicitar que o aperto monetário chegou ao fim. A estratégia da instituição será deixar as portas abertas até setembro, quando voltará a se reunir, para dar um veredito sobre os juros.

Como se acredita que os indicadores, especialmente os de desemprego, vão piorar muito, mostrando a economia no fundo do poço, será mais fácil para a autoridade monetária convencer os investidores de que o trabalho que tinha que ser feito para levar a inflação ao centro da meta, de 4,5%, ao fim de 2016, estaria completo.

O grande temor do BC, ao não ratificar, explicitamente, o fim do arrocho na Selic no fim deste mês é de que o mercado passe a especular que a decisão teve conotações políticas, ou seja, que o time comandado por Alexandre Tombini cedeu aos apelos do Palácio do Planalto para evitar uma contração mais forte da economia.

Dentro do governo, esse tipo de especulação é visto como esquizofrenia do mercado. Há analistas que, claramente, vêm dizendo que o BC já se excedeu no aumento dos juros. Portanto, não há como, depois de consumado o encerramento do processo de alta da Selic, esse tipo de insinuação prevalecer entre os investidores.

Derretimento

Os números que circulam pelo governo indicam que a retração da economia neste ano está mais próxima de 2%. E só não será maior porque, com a forte queda das importações, o setor externo dará contribuição positiva para o cálculo do Produto Interno Bruto (PIB). Há ainda indicadores mostrando que, apenas em junho, foram fechadas quase 100 mil vagas formais, uma deterioração muito rápida do mercado de trabalho.

Todos esses números estão sendo incorporados nas contas do BC para definir a Selic. E devem ser levados em consideração pelos analistas para formar as expectativas em relação ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2016. As projeções atuais se mantêm resistentes entre 5,4% e 5,5%, mas a equipe econômica acredita que, até setembro, devem estar encostando em 4,5%. As estimativas de inflação para o ano que vem vão encolher na velocidade da redução da atividade, dizem os técnicos.

Diante da esperada tensão dentro do governo e no mercado sobre os rumos da Selic, Alexandre Tombini já se movimenta para que a unidade permaneça entre os integrantes do BC. Se a opção for pela alta de 0,25 ponto, que todos votem por ela. Se for pelo aumento de 0,50 ponto — metade do mercado acha que o BC será mais radical, porque a inflação ainda está muito alta —, que não haja dissonância.

Não custa lembrar que tanto a subida dos juros neste mês quanto o movimento que vier a ser feito em setembro só terão impacto na economia em 2016, uma vez que o efeito defasado da política monetária se dá entre seis e nove meses. Sendo assim, daqui por diante, as decisões do BC terão a ver muito mais com o controle de expectativas dos agentes econômicos do que com o combate efetivo da inflação. É o preço da credibilidade.

No colo de Temer

» Joseph Couri, presidente da Associação Nacional dos Sindicatos das Micro e Pequenas Empresas (Assimpi), despejou números assustadores no colo do vice-presidente da República, Michel Temer. Disse que 62% das micro e pequenas empresas correm o risco de fechar as portas por causa das crises política e econômica.

Pressão por capital

» Segundo Couri, 22% do setor já fez, neste ano, cortes que atingiram 177 mil trabalhadores somente em São Paulo. “Pedi a Temer que não deixe as empresas quebrarem” conta. Ele ressalta que solicitou ao vice que o Banco Central force os bancos a liberarem capital de giro às firmas. Temer ficou de conversar com Alexandre Tombini.

Dilma no limbo

» Pesquisa realizada com micro e pequenos empresários mostra que 76% consideram o governo Dilma ruim ou péssimo. Apenas 5% aprovam a administração da petista.

Persona non grata

» O secretário executivo do Ministério do Planejamento, Dyogo de Oliveira, já não figura mais na lista de pessoas queridas do ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

Brasília, 11h15min