Mais do que uma aceleração no corte da taxa básica de juros (Selic) nesta quarta-feira, o que o Palácio do Planalto realmente espera é que o Banco Central convença os bancos a reduzirem os encargos cobrados de empresas e consumidores. Na avaliação do presidente Michel Temer, de nada adiantará o BC derrubar mais uma vez a Selic — a aposta majoritária do mercado é de diminuição de um ponto percentual, de 12,25% para 11,25% — se o crédito não ficar mais barato.
A retomada do crescimento precisa que as instituições financeiras liberem empréstimos e financiamentos a taxas mais baixas. No entender do governo, os juros menores permitirão, por um lado, que as empresas e as famílias possam renegociar suas dívidas a um custo menor, abrindo espaço tanto para os investimentos produtivos quanto para o consumo. De outro lado, aqueles que já conseguiram equilibrar o orçamento se sentirão mais confortáveis para tomar algum tipo de crédito.
“Temos que fazer a economia girar. Hoje, muitas empresas e consumidores estão asfixiados por dívidas caríssimas. A manutenção desse quadro inibe uma recuperação mais acentuada da economia”, destaca um auxiliar de Temer. Ele conta que o próprio presidente tem conversado, sempre que possível, com os principais banqueiros do país e ressaltando a importância de eles abrirem a torneira do crédito. “Os apelos estão sendo feitos. Mas os bancos ainda se mantêm na retaguarda”, ressalta.
Para o governo, é inaceitável que, mesmo com o Comitê de Política Monetária (Copom) tendo cortado, desde outubro do ano passado, dois pontos percentuais da Selic, as taxas cobradas pelos bancos tenham subido. O aumento foi observado, inclusive, entre as instituições públicas. Nas linhas de capital de giro para empresas com pagamento em até 365 dias, os juros praticados pela Caixa Econômica Federal saltaram de 45,1% para 46,7% ao ano entre outubro e março últimos.
Na mesma linha de crédito, os encargos fixados pelo Santander pularam de 32,5% para 39,2% ao ano. Já as taxas do Bradesco subiram, no mesmo período, de 34,9% para 36,9% anuais. “Nesse ambiente tão hostil, não há como as empresas pensarem em tomar crédito para reforçar o caixa. Com as vendas em queda, como vão assumir mais juros?”, questiona um integrante da equipe econômica. “Sem crédito, fica difícil falar em mais investimentos produtivos e consumo”, frisa.
Nada por decreto
No Banco Central, o diretor de Relacionamento Institucional e Cidadania, Isaac Sidney Menezes Ferreira, garante que tudo está sendo feito para que os bancos reduzam os juros. “Temos observado uma postura colaborativa das instituições”, ressalta. Ele admite, porém, que as taxas cobradas de empresas e consumidores estão longe do que se pode chamar de normais. Ele frisa que os bancos têm apontado o aumento da inadimplência como o principal motivo para o encarecimento do crédito num momento em que se esperava justamente o contrário.
Pelos cálculos do BC, a inadimplência corresponde a 55,7% do spread bancário, diferença entre o que as instituições pagam aos investidores e o que cobram dos devedores. Em 2011, o spread médio estava em 18%. Caiu para 14% anos depois, mas voltou a subir, atingindo 22,5%. Nesse período, o índice de calote realmente subiu, mas nada demais. Agora, está em queda. Entre as pessoas físicas, recuou de 5,7% para 5,6%. Ou seja, o argumento usado pelos banqueiros para restringir e encarecer o crédito não se sustenta. O aumento do spread, na verdade, só serviu para inflar os ganhos dos bancos.
O diretor do BC enfatiza que não há como reduzir “juros por decreto” nem por meio de medidas voluntaristas ou simplórias. “Temos atuado para corrigir todas as distorções e dar mais segurança ao sistema. A nossa agenda prevê crédito mais barato”, afirma. Para Isaac, é importante ressaltar que, do ponto de vista macroeconômico, o BC vem promovendo um afrouxamento consistente da política monetária, movimento que está sendo possível pela forte queda da inflação. É preciso, portanto, que as ações da autoridade monetária sejam acompanhadas pelo sistema financeiro, barateando o crédito.
Decepção
Assessores de Temer têm a convicção de que os fracos resultados do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre do ano, quando se esperava um ritmo mais forte da atividade, decorrem da escassez e do encarecimento do crédito. A indústria, que depende de capital de giro, ficou praticamente à míngua. Com as pessoas físicas não foi diferente. Diante desse quadro, o governo não descarta mais uma queda do PIB entre janeiro e março. “O nosso cenário principal é de aumento da produção de ao menos 0,3%. É quase nada, mas, pelo menos, significará o fim oficial da recessão”, destaca outro integrante da equipe econômica. “Se houvesse mais crédito barato, produção e consumo teriam resultados melhores”, emenda.
Na visão do governo, à medida que os bancos forem repassando à clientela os cortes da Selic, a roda da economia passará a girar com maior força. “Vai demorar um pouco, mas esses repasses serão inevitáveis. Não haverá desculpas para os bancos”, acrescenta um ministro da área política. Ele diz que, no entorno do presidente Temer, a aposta majoritária é de que o Banco Central reduzirá os juros amanhã em um ponto percentual. “O bom mesmo seria a Selic cair 1,5 ponto, para menos de 11%. Mas, infelizmente, não veremos isso”, conclui.
Brasília, 09h30min