Para Sachsida, é preciso discutir os impactos de longo prazo da pandemia

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ROSANA HESSEL

Apesar de demonstrar otimismo em relação ao crescimento da economia, reforçando a tese de que o Produto Interno Bruto (PIB) teve uma recuperação rápida, com curva em V, durante a pandemia da covid-19, o secretário de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, reconheceu que o cenário para uma avanço da economia será desafiador, pois o crescimento econômico está sendo desigual em vários setores e a pobreza está aumentando tanto no Brasil quanto no resto do mundo.

“A pandemia foi a maior crise de saúde pública da nossa história e teremos que continuar trabalhando para endereçar os problemas de curto e de longo prazos oriundos da pandemia”, afirmou Sachsida, nesta quarta-feira (14/7), durante a divulgação do boletim MacroFiscal da SPE, que elevou de 3,5% para 5,3% a previsão de crescimento do PIB deste ano. Esse informou que a SPE vai organizar um seminário para fazer “um grande debate sobre os custos de longo prazo da pandemia”.

Segundo o secretário, essa melhora do crescimento foi, em grande parte, resultado do avanço da vacinação no país. Contudo, ao ser questionado sobre os dados do Índice de Atividade Econômica do Banco Central, o IBC-Br, divulgado hoje com queda de 0,43% que ficou abaixo das expectativas do mercado, que esperavam crescimento, ele tentou minimizar o resultado negativo. “Abril foi um mês difícil, com a pandemia atingindo patamares elevados. Ainda assim, as expectativas do mercado continuam elevado as estimativa do PIB”, afirmou.

De acordo com Sachsida, os principais impactos da pandemia no longo prazo serão na formação do capital humano e na saúde, porque muitas pessoas estão deixando de fazer exames periódicos durante a pandemia. “Um jovem pobre que ficou sem estudar no ano passado e neste ano, perdeu dois anos de educação pelo resto da vida dele. Isso é u m tremendo choque na formação de capital humano e não há culpados, porque a pandemia gerou isso”, lamentou.

O chefe da SPE reconheceu que, na atual conjuntura de a inflação cada vez mais elevada e o desemprego em alta, a pobreza está aumentando no país e esse é um dos problemas que o Brasil e mundo precisarão debater melhor como enfrentar.  “A pobreza é um custo de longo prazo e isso aumentou no mundo inteiro e não foi diferente no Brasil”, disse ele, defendendo um programa mais amplo no combate a pobreza, mas não disse como ele será financiado. “Precisamos de um programa mais robusto de combate à pobreza”, reforçou citando que há outros problemas que também precisarão ser enfrentados, como o aumento do endividamento das famílias, das empresas e do governo.

Durante a apresentação dos dados do boletim, Sachsida voltou a afirmar que a equipe econômica foi “conservadora” nas projeções do PIB em 2020, enquanto a maioria dos institutos e órgãos internacionais acabaram errando as projeções mais pessimistas de retração econômica durante a pandemia e reforçou que a recuperação da economia está sendo “uma vitória” da política econômica do governo.

No entanto, o secretário evitou reconhecer os erros ao minimizar os efeitos da segunda onda no fim do ano passado e agora que estão sendo questionados pelos senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da pandemia. “Os dados que tínhamos acesso mostravam uma retomada da atividade econômica. A Secretaria corretamente a queda do PIB no ano passado e a retomada. Os dados estavam corretos’, disse.

Inflação

No Boletim Macro Fiscal,  a SPE elevou as projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano, de 5,05% para 5,90%, acima do teto da meta prevista para 2021, de 5,25%. Esse dado para a inflação oficial está abaixo da mediana das estimativas do mercado, de 6,1%.

“É importante destacar que a política fiscal e a política monetária seguem trabalhando junto para ancorar as expectativas e manter a trajetória de inflação em queda”, afirmou Sachsida, lembrando que, no acumulado em 12 meses até junho, o IPCA está em 8,4%, minimizando os riscos atuais relacionados à inflação. “Ao fechar o ano em 5,9%, o que estamos mostrando que a inflação segue uma trajetória de queda até o final do ano. Então à medida que continuemos avançando na agenda econômica, vacinando em massa a população, aprovando reforma pró-mercado e melhorando a consolidação fiscal, essa trajetória de queda continuará”, disse.

Contudo, o chefe da SPE reconheceu que há as pressões inflacionárias que podem aumentar em função da crise hídrica e de uma retomada mais forte dos serviços no segundo semestre, mas que não estão totalmente contabilizadas nessas novas projeções. “O Ministério de Minas e Energia é que está endereçando essa questão (da crise hídrica). E, se for necessário, tomaremos as devidas precauções”, disse. “O mais importante é que, se continuarmos fazer o dever de casa, vamos ancorar as expectativas e a tendência de queda”, afirmou.

Vicente Nunes