Foi, porém, após o fechamento do mercado financeiro que o governo vibrou por completo. No entender do Palácio do Planalto, o dólar cotado a R$ 3,10, o risco-país em 199 pontos, a Bolsa de Valores nos 68.474 pontos, caminhando para atingir seu recorde histórico, e os juros desabando no mercado futuro comprovam que a confiança voltou com tudo. “Não há exagero nisso. Os investidores estão reconhecendo que estamos no caminho certo. Apesar de todos os percalços, estamos entregando tudo o que prometemos”, ressalta o mesmo ministro.
Por trás do discurso ufanista do governo, há uma estratégia clara: convencer os parlamentares da base aliada que ainda relutam em apoiar a reforma da Previdência Social. Temer vai ressaltar a eles que todas as conquistas do governo poderão se perder se as mudanças no sistema de aposentadorias forem barradas pelo Congresso. O presidente mostrará ainda, nesse processo de convencimento, que a melhora da economia reduzirá o desemprego e trará de volta a sensação de bem-estar. Nesse quadro positivo, os eleitores pouco se importarão com as reformas quando forem depositar os votos nas urnas em 2018.
Ousadia
Na avaliação do Planalto, para completar o bom momento vivido pela economia, só faltará o Banco Central acelerar o passo no corte da taxa básica de juros (Selic) na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para o fim deste mês. A aposta unânime entre os assessores de Temer é de que a redução na Selic será de 1,25 ponto percentual, dos atuais 11,25% ´para 10% ao ano. A certeza em relação à maior ousadia do BC veio depois que o Itaú Unibanco avisou que havia mudado a sua projeção para o Copom, de baixa de um ponto para queda de 1,25 ponto.
Pelos cálculos do Itaú Unibanco, os juros encerrarão 2017 em 7,5%. A última vez que a taxa básica chegou a esse nível foi em 2012, no governo Dilma Rousseff, mas não se sustentou. A inflação disparou, pois os agentes econômicos perceberam que a decisão do BC de levar a Selic para um patamar tão baixo não estava respaldada em critério técnicos, mas, sim, políticos. E mais: estava clara a destruição das contas públicas. Agora, ressaltam assessores de Temer, a inflação está caindo sem intervenção estatal, refletindo a confiança no BC comandado por Ilan Goldfajn.
Um técnico da equipe econômica chama a atenção para as projeções de inflação do mercado. Pela pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo BC, as estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caíram abaixo de 4% neste ano, exatos 3,93%. Para 2018, a projeção está em 4,36%, inferior ao centro da meta, de 4,5%, definida pela Conselho Monetário Nacional (CMN). Ao mesmo tempo, os analistas elevaram a previsão de crescimento da economia para 2017, de 0,47% para 0,5%. “Ninguém aqui está superdimensionando os números, porém, estamos vendo o mercado apostando em uma economia mais forte com uma inflação abaixo do centro da meta. Isso é confiança”, afirma.
Cuidados
Os mais céticos, contudo, fazem um alerta: todo esse otimismo que os agentes econômicos estão demonstrando pode desaparecer da noite para o dia. Basta que percebam a incapacidade do governo de aprovar a reforma da Previdência. O prazo fixado pelo investidores para que o processo de votação seja encerrado no Senado é setembro. A partir daí, se a reforma empacar, a desconfiança voltará com tudo. Um importante banqueiro diz que os investidores já foram muito complacentes quando aceitaram as mudanças feitas no projeto original da Previdência. A economia prevista para os próximos anos caiu de R$ 800 bilhões para R$ 600 bilhões, como diz o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.
“Uma coisa é aprovar uma reforma da Previdência menor do que a necessária. Outra, é não aprovar nada”, frisa o banqueiro. Ele destaca que, até agora, pode-se dizer que o governo sairá vitorioso, conseguindo entre 320 e 330 votos para mudar o sistema de aposentadorias. Mas entre expectativa e realidade há uma grande distância. E os donos do dinheiro sabem medir exatamente até onde ela vai.
Brasília, 06h30min