Militares de alta patente, de dentro e de fora do governo, consideraram “terrível” o ataque ao Congresso dos Estados Unidos por defensores do presidente Donald Trump. Eles não escondem o temor de fatos semelhantes ocorrerem no Brasil, dado o radicalismo que se vê hoje no país.
Para os fardados, fez muito bem o Congresso norte-americano em ter retomado os trabalho e reconhecido a vitória do democrata Joe Biden, que superou Trump nas urnas e no colégio eleitoral nas eleições realizadas em novembro de 2020. “Foi um sinal muito importante para a democracia daquele país”, diz um general.
No entender dos militares, ao referendar Biden, o Congresso dos EUA mostrou que não compactuará com a violência que chocou o mundo e deixou quatro pessoas mortas. Trump, para os fardados, sairá pelas portas dos fundos. “Simplesmente, Trump ultrapassou todos os limites”, acrescentou um almirante.
Todos reconhecem a forte ligação do presidente Jair Bolsonaro com Trump. E ressaltam o histórico de “balburdia política” no Brasil, a mais recente, em 2013, governo de Dilma Rousseff. Houve uma tentativa de invasão do Congresso, contida a tempo. “Nos EUA, infelizmente, apesar de todos os avisos, o Congresso não preparou sua segurança para conter a invasão”, diz o mesmo almirante.
Sociedade imatura e mais jovem
Os militares traçam um paralelo entre as democracias dos Estados Unidos, exemplo para o mundo, e do Brasil, ainda bastante jovem. Portanto, para eles, é sempre importante ficar atento a todos os movimentos a fim de se evitar atos extremos. “O que temos de ressaltar é que a nossa sociedade é mais jovem e imatura do que a norte-americana”, destaca um integrante da Aeronáutica.
O problema se agrava porque Bolsonaro diz que todos devem se preparar para, em 2022, ver cenas ainda mais violentas do que as registradas nos Estados Unidos caso ele não seja reeleito. Para o presidente, se não houver votos impressos, as fraudes eleitorais estarão consolidadas.
Na visão dos militares, o debate político é saudável, mas sem radicalismos de direita e de esquerda. “O contraponto e a diversidade de opinião devem existir para que o somatório traga melhor resultado. Nada feito com violência traz resultados construtivos e positivos”, diz o mesmo integrante da Aeronáutica. “A guerra tem de ser de ideias e de propostas, e todas têm de ser aceitas.”
Um dos militares consultados pelo Blog lembra o que disse o general Villas-Bôas, comandante do Exército nos governos Dilma e Temer: “Independentemente do governo, sempre haverá Forças Armadas para defenderem o Brasil”. Mais: isso passa por “legalidade, legitimidade e credibilidade”.
Brasília, 18h51min