MÔNICA CABAÑAS, de Genebra
O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, não poupou críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em Genebra, na Suíça, onde participa da 111ª Conferência Internacional do Trabalho, promovida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Ele disse que, se o chefe da autoridade monetária estivesse trabalhando na iniciativa privada, já teria sido demitido por errar tanto.
Para Marinho, não há nada que justifique o Banco Central manter a taxa básica de juros (Selic) em nível tão elevado, de 13,75% ao ano, quando o Brasil vive um processo de desinflação, com a taxa acumulada em 12 meses abaixo de 4%. “Se fosse em qualquer empresa privada, ele teria sido demitido, porque não está cuidando da abrangência de suas funções. A empresa já teria colocado outra pessoa mais competente no lugar dele”, afirmou.
Na avaliação do ministro, é inaceitável que o Brasil ostente as taxas reais de juros (descontadas a inflação) mais altas do planeta, beirando os 9% anuais. Para ele, se o Senado brasileiro, responsável por aprovar os diretores do BC, fosse observar com rigor, Campos Neto também deveria ter sido demitido de sua função, porque, além de a inflação estar baixa, o que justificaria cortes na Selic, ele deveria também olhar para o emprego. “Nunca vi o presidente do BC tratar do tema emprego”, assinalou.
Os ataques de Marinho ao presidente do Banco Central reforçam o tiroteio contra os juros altos disparados pelo presidente Luiz Inácio da Silva, pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin, e pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Mesmo entre os economistas, as críticas estão presentes. Segundo André Roncaglia, da Universidade Federal de São Paulo, Campos Neto assumiu um lado político contra o atual governo. Os juros, acredita, já deveriam estar entre 10,5% e 11% ao ano.
Marinho ressaltou, ainda, ver com bons olhos empresárias como Luiza Trajano, dona da rede de varejo Magazine Luiza, que endossam o descontentamento em relação à política de juros conduzidas pelo Banco Central. Na segunda-feira (12/06), em um seminário promovido pelo Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), ela enfatizou o quanto é importante para o Brasil que os juros caiam rapidamente.
“Sendo a empresária que ela é, com a amplitude que tem, com a repercussão da fala que tem, com o conhecimento que tem de varejo, pois é uma das maiores autoridades, se não a maior do setor, ela pode fazer esta abordagem, de cobrar o presidente do BC sobre as altas taxas de juros”, disso o ministro”. Ele afirmou esperar que Campos Neto não enxergue, de novo, a fala da empresária como uma afronta, mantendo a taxa Selic nos atuais patamares.
“Caso isto aconteça, será necessário que a sociedade como um todo passe a cobrar do Senado brasileiro, a instituição que tem a função de controle sobre o BC, um posicionamento a respeito do tema”, frisou o ministro. O Comitê de Política Monetária (Copom) se reunirá na próxima semana para definir os rumos dos juros no Brasil.