O clima de apreensão que tomou conta do governo deu uma amenizada ontem, mas ainda está longe de garantir uma ampla vitória nas reformas trabalhista e, sobretudo, da Previdência Social. A aprovação do regime de urgência para a votação das mudanças na lei trabalhista, depois de uma derrota acachapante na véspera, e a definição de um cronograma para o andamento da reforma previdenciária deixaram a visão, no Palácio do Planalto, de que o presidente Michel Temer não perdeu o comando da base aliada. Continua a contar com um amplo leque de apoio no Congresso.
“Não dá para cantar vitória total, mas demos passos importantes. Se não tivéssemos saído vitoriosos ontem, o risco de a base se dispersar era grande. Era muito importante dar uma demonstração de força”, diz um importante auxiliar de Temer. Ele reconhece, porém, que os próximos dias serão vitais para que o governo pavimente o caminho definitivo pela vitória. “Estamos no meio de uma guerra. O mundo político está ruindo, abalado pela Lava-Jato, o país ainda está mergulhado em um grave crise econômica, com desemprego recorde, e o governo não tem apoio popular. Aprovar reformas nesse contexto requer muita disposição. Mas a determinação do presidente é seguir em frente”, acrescenta.
Para os investidores, o governo não pode vacilar, pois já cedeu demais na proposta de reforma da Previdência. Pelos cálculos dos especialistas, com as alterações feitas no projeto original encaminhado ao Congresso, o Planalto abriu mão de ao menos R$ 340 bilhões dos quase R$ 800 bilhões que seriam economizados nos 10 anos seguintes à aprovação da reforma. Como bem ressaltou o ministro da Fazendo, Henrique Meirelles, chegou-se ao limite das concessões. Agora, é preservar o que restou do projeto e entregá-lo o mais rapidamente possível, pois quanto mais as mudanças na Previdência demorarem, mais tempo a economia levará para sair do atoleiro. “Sem reformas, não haverá crescimento econômico”, diz o auxiliar de Temer.
Flertando com o caos
No entender de especialistas, mesmo com todos os percalços, é possível dizer que o governo ainda dispõe de fôlego para aprovar as reformas trabalhista e da Previdência. No caso das mudanças do sistema previdenciário, as chances de vitória variam entre 60% e 70%. Já foram maiores, mas, dado o gravíssimo quadro político, com todas as grandes lideranças tragadas pela Lava-Jato, a probabilidade continua elevada. “Vamos reforçar o discurso de que, sem reformas, o país quebrará de vez. Perderemos mais um ano e, em 2018, as eleições serão realizadas sobre terra arrasada”, afirma um integrante da equipe econômica. “Não há ilusão. O Brasil não tem saída sem reformas. Se não forem feitas agora, serão no próximo governo”, emenda.
O Planalto espera que, com a reforma trabalhista saindo logo, será possível aprovar, ainda na segunda quinzena de maio, no Plenário da Câmara, as mudanças na Previdência. O mercado financeiro mantém o voto de confiança, até por falta de opção. Mas, a cada passo em falso no andamento das reformas, cobrará seu preço. Os analistas dizem que o discurso positivo do Planalto está no limite. Agora, a hora é de dar demonstrações de força. O estrago da Lava-Jato já foi feito. Sabe-se que a grande maioria dos políticos está no mesmo barco. Portanto, é preciso concentrar as energias para fazer o dever de casa. Ou o governo entrega o que todos estão esperando ou a ruína baterá às portas de todos. “É vencer ou vencer”, enfatiza um dos principais banqueiros do país. “Já perdemos tempo demais. O Congresso precisa compreender que estamos flertando com o caos”, sentencia.
Brasília, 07h30min