PAGANDO PELOS ERROS

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Mais do que a decisão sobre a taxa básica de juros (Selic), que deve ser mantida hoje em 14,25% ao ano, os investidores querem ver o que o Banco Central escreverá na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que será divulgada na próxima semana. Com a credibilidade no chão, a instituição terá que reforçar seu compromisso com o controle da inflação. Se vier com palavras amenas, pode provocar ainda mais ruídos e fechar todas as portas para a queda da Selic a partir do segundo semestre, como aposta grande parte dos especialistas.

Não há mais espaço para a repetição de equívocos, como o cometido pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em janeiro último. Em dia de reunião do Copom, ele usou um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) com perspectivas piores para a economia brasileira para rasgar o compromisso que havia assumido de elevar os juros. Provocou um enorme rebuliço no mercado e estimulou remarcações preventivas de preços. O impacto foi tão grande que as perspectivas de inflação para este ano saltaram para quase 8%.

Agora, Tombini e seu diretor de Política Econômica, Altamir Lopes, assumiram, publicamente, o discurso de que não há espaço para queda dos juros. Isso só será possível, segundo eles, quando a inflação começar a cair. Todo mundo sabe, porém, que o maior desejo do BC hoje é de cortar os juros, e o fará ainda neste ano. Mas é preciso, antes de tudo, retomar um pouco da confiança perdida e corrigir a comunicação com os agentes econômicos. Os investidores precisam ter a certeza de que pelo menos um órgão do governo não abriu mão do compromisso de levar a inflação para as metas.

Pior dos mundos

Há várias projeções circulando pelo mercado, mostrando que o corte de juros a partir do segundo semestre será inevitável. Os mais otimistas em relação ao nível de atividade falam de redução de dois pontos percentuais, para 12,25% ao ano. A ala mais pessimistas diz que, diante da gravidade da recessão, a Selic terá que cair pelo menos quatro pontos, para 10,25%. Em ambos os cenários, as justificativas são de que, se não houver um afrouxamento da política monetária, o Produto Interno Bruto (PIB) poderá recuar até 3% em 2017, isso, depois de ceder 4% em 2015 e 4% em 2016.

O entendimento é de que, mesmo que a inflação deste ano fique acima do teto da meta, de 6,5%, não haverá escapatória. Os juros reais, que descontam o custo de vida projetado para os próximos 12 meses, vão aumentar muito, o que é mortal para a economia real. O BC terá que agir para não enterrar de vez o país. Para isso, porém, terá que reconstruir a credibilidade perdida. Não há como uma autoridade monetária sem confiança fazer um movimento tão forte dos juros, mesmo com a inflação longe do centro da meta.

Já no comunicado de hoje pós-reunião de Copom, o time comandado por Tombini deve reforçar que os juros, por enquanto, ficam onde estão. Na ata, virá o detalhamento sobre o que pensa o BC. Os analistas dizem que o banco não deve se acovardar e precisa cobrar um compromisso mais consistente do Ministério da Fazenda com o ajuste fiscal. É generalizado o temor de que o país caminhe para o calote se a dívida pública sair do controle. Sem o reequilíbrio das contas públicas, de nada adiantará o movimento de corte de juros para resgatar a economia.

Panela de pressão

Dentro do BC, há uma corrente que defende o corte de juros ainda que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fique além de 6,5%. O argumento é de que não há espaço para um surto inflacionário com o corte de juros, porque a capacidade de crescimento da economia está muito distante de seu potencial. O estrago provocado pelo governo foi tamanho, que uma retomada que possa estimular um movimento de alta de preços está muito distante do horizonte.

De qualquer forma, não dá para brincar. O BC já errou demais e impôs custos enormes ao país. Se quiser realmente pavimentar o caminho para a redução da Selic, terá que ser muito transparente e contundente na comunicação com o mercado. Meias palavras não bastarão. Está claro para todo mundo que a insatisfação é grande. Falta muito pouco para a panela de pressão explodir. Não seria recomendável ao Banco Central ser o estopim do caos.

 

Brasília, 08h30min