ROSANA HESSEL
Apesar de ser uma raposa política, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não tem conseguido escolher bem seus interlocutores com o Congresso Nacional, algo que vem deixando a desejar, segundo fontes do Legislativo. Políticos já fazem comparações de que as relações do Palácio do Planalto com os parlamentares nesse início de governo já está pior do que no primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), conhecida por não muito traquejo nas conversas com deputados e senadores.
Segundo membros do Parlamento, a pasta que poderia fazer essa interlocução com desenvoltura, a Casa Civil, ainda não mostrou a que veio. O chefe da pasta, o ex-governador baiano Rui Costa, tem se preocupado, por exemplo, em atacar os juros altos e escolheu o Banco Central como inimigo, dando pitacos em uma seara que ele não entende — a política monetária. Nesta quarta-feira (22/3), em dia de decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), disse a jornalistas durante um café que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, presta um “desserviço à nação”.
Contudo, há quem diga que Costa poderia mostrar que é um político hábil e aproveitar o cargo para capitanear o bom relacionamento do govenro com o Congresso, como fazia o ex-ministro da Casa Civil de Michel Temer, Eliseu Padilha. Falecido recentemente, vítima de câncer, Padilha era o mais poderoso ministro de Temer, dava a palavra final sobre vários assuntos espinhosos, pois conseguia, como ninguém, dialogar e mapear como o tamanho da base governista, lembrou um líder que já atuou em governos petista e bolsonarista.
Assim como os demais integrantes do primeiro escalão que querem voto nas próximas eleições, Costa vem quebrando a cabeça para conseguir entregar algo concreto no balanço de 100 dias do novo governo que mal tem dinheiro para investir — porque não consegue fechar um arcabouço que controle a gastança que precisa ocorrer de forma correta, com análises de impacto econômico e relatórios de acompanhamento de efetividade dos investimentos. Na falta de ideia nova e de qualidade, querem relançar até o polêmico e controverso Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), “com nova roupagem”.
Entre analistas e parlamentares, o burburinho sobre o que esperar de anúncios dos 100 dias de governo é de que não há grandes expectativas, pois o presidente Lula vai ter pouco para entregar. E, para piorar, como ele ainda não sabe, de verdade, quantos votos ele tem no Congresso, Lula já já sinalizou que pretende começar a fazer as negociações pessoalmente. A sorte dele é que, os partidos que avisaram que vão ser oposição ainda não sabem muito bem como é ser oposição de verdade, pois há divisões internas nas legendas, de acordo com um deputado que tem bom trânsito nas legendas do Centrão.
Na avaliação dele, Lula queimou capital político de forma desnecessária, para aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, para ampliar o teto de gastos e poder cumprir as promessas de campanha. O preço: a reeleição de Arthur Lira (PP-AL) e de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para as presidências da Câmara e do Senado, respectivamente. Agora, que ele precisa negociar para aprovar até mesmo a Medida Provisória da nova estrutura do governo — que corre o risco de caducar –, os líderes da base governista ainda não tem uma estratégia clara e, muito menos, o mapeamento de quantos votos conseguem arregimentar.
O fato é que os tropeços neste terceiro mandato do governo deixam incertezas sobre para onde vai o governo, que começa a fazer alianças como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fazia no fim do mandato, negociando cargos e verbas para conseguir votos. Vale lembrar que a falta de um posicionamento mais coerente diante de denúncias de ministros de partido que ainda não garante apoio nas pautas do governo — que ainda não estão claras ou não foram enviadas ao Legislativo — ainda deve custar caro para Lula, pois, dizem que não soube negociar bem alguns cargos de primeiro escalão.