Há quase quatro meses no comando do Ministério da Fazenda, Joaquim Levy tem mostrado desenvoltura política impressionante para quem foi apresentado como um técnico tímido e compenetrado, não muito afeito aos salamaleques da Corte que habita Brasília.
A forma como vem transitando dentro do governo e no Congresso Nacional tem chamado a atenção de parlamentares astutos, que veem em Levy um projeto de poder que pode desaguar em uma tentativa de se lançar candidato à Presidência da República em 2018.
Como o PT está desgastado, por causa das gravíssimas denúncias de corrupção, nem mesmo o ex-presidente Lula apresenta hoje condições de manter o partido no poder, como mostram as mais recentes pesquisas de intenção de votos. A única chance de a legenda que comanda o país desde 2003 se mostrar competitiva na disputa pela sucessão de Dilma Rousseff seria lançar um nome novo, fora do círculo tradicional de políticos. Por que não Levy?
Ambições o ministro tem de sobra. Quem o viu ontem circulando pela Tecnoshow Comigo, feira agrícola realizada em Rio Verde, interior de Goiás, tinha a certeza de se tratar de um político-candidato. Vestindo camisa com as mangas dobradas, chapéu de palha e distribuindo beijinhos, Levy estava muito distante do técnico que assumiu com a missão de promover um forte ajuste nas contas públicas, usando um linguajar muito longe da compreensão do povão.
É possível associar os primeiros meses de Levy aos do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, com o qual o atual ministro trabalhou como secretário do Tesouro Nacional. Ao comandar um programa para resgatar a credibilidade da economia, no início do primeiro governo Lula, Palocci tornou-se referência na administração petista.
À medida que ia colhendo bons resultados na economia e se mostrando articulador perspicaz e sensato, Palocci passou a ser visto como um provável sucessor de Lula. Sua visibilidade foi tão expressiva, que passou a despertar inveja dentro do governo. Acabou tendo todas as chances de chegar à disputa presidencial atropeladas pela quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.
Auxiliares próximos a Levy garantem que, neste momento, não há nenhuma intenção por parte do ministro de enveredar para a política. Mas destacam que o ministro não economiza esforços para ganhar relevância dentro do governo. Ele sabe que, se conseguir levar adiante o programa de ajuste fiscal que prometeu, arrumar a casa destruída no primeiro mandato de Dilma, ganhará musculatura para projetos mais ambiciosos. Quem sabe o Palácio do Planalto.
Não se pode esquecer de que Levy tem conexões com os três maiores partidos do país. Está num governo PT, inflado por Lula e por Dilma, que ontem, no meio da feira, lhe mandou um torpedo convocando-o para uma reunião no fim da tarde. Trabalhou para o PSDB, durante a administração de Fernando Henrique Cardoso, e fincou raízes no PMDB ao comandar a secretaria de Fazenda do Rio de Janeiro.
Os próximos passo do ministro da Fazenda vão mostrar suas reais intenções. Sobretudo quando 2017 chegar. Lá, acredita ele, o Brasil estará redondinho, crescendo a uma taxa superior a 2%, com inflação próximo do centro da meta, de 4,5%, e contas públicas ajustadas. Levy será apontado como o salvador da Pátria, título que cabe muito bem numa campanha eleitoral.
Troca na chefia de gabinete
» Joaquim Levy vai mudar a chefia de gabinete do Ministério da Fazenda. Mirian Mara Miranda será substituída por Luiz Carlos de Almeida Capella.
Corte nos juros
» Enquanto a grande maioria dos analistas está focada na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), no fim de abril, quando a taxa básica (Selic) deverá subir de 12,75% para 13% ao ano, um grupo de especialistas já começa a mapear quando o Banco Central começará a cortar os juros.
Susto com a atividade
» Para Ivo Chermont, economista-chefe da Itaim Asset, todas as surpresas negativas que o Copom poderia ter com a inflação já teve no primeiro trimestre. Ou seja, a tendência é de que, mesmo que lentamente, o custo de vida comece a ceder em direção ao centro da meta, de 4,5%. A partir de agora, o pior virá do nível da atividade.
Novembro na mira
» Ivo Chermont acredita que, com a economia afundando e a inflação cedendo, é possível que o debate sobre corte dos juros comece a ganhar corpo a partir de setembro, com o Copom dando início à derrubada da Selic na última reunião do ano, no fim de novembro. O BC só não reduzirá a Selic antes por questão de credibilidade.
Petrobras sobe 50%
» Quem comprou ações da Petrobras no dia em que as cotações chegaram ao menor nível, R$ 8,18, em 30 de janeiro, acumula ganho de 50%, informa o economista-chefe da TOV Corretora, Pedro Paulo Silveira. Nesse período, a empresa ganhou R$ 40 bilhões em valor de mercado.
Brasília, 15h40min