Ainda que com muita reserva, o mercado financeiro já discute a possibilidade de Dilma Rousseff não terminar o governo, seja por meio da renúncia ou de impeachment. A reprovação de 65% do governo, nível só comparável à administração Collor de Mello, que caiu por corrupção, e o desastroso desempenho da economia têm levado vários analistas a traçarem cenários do que pode ocorrer no Brasil caso a petista interrompa o mandato. O que se vê é um país mergulhado no caos.
Todos os estudos mostram, porém, que a probabilidade de Dilma não entregar a faixa presidencial a seu sucessor em janeiro de 2019 é muito pequena. Por maior que seja a fragilidade política enfrentada pela chefe do Executivo e mesmo que a economia afunde de vez na recessão, tudo indica que haverá movimentos em várias frentes para que ela cumpra o mandato que as urnas lhe deram. Os próprios analistas que se dedicaram ao tema acreditam que esse é o melhor caminho para o país. A ruptura custaria muito, mas muito caro.
O certo é que Dilma não terá sossego. Se antes mesmo de completar seis meses do governo o descontentamento da população com o governo é enorme, à medida que o tempo for passando, a gritaria vai se agigantar. O Brasil combina hoje tudo o que há de pior na economia: a inflação está caminhando para 10%, o desemprego atinge em cheio as famílias, sobretudo no Nordeste e no Sudeste; o crédito está caro e escasso e o governo está de mãos atadas para dar algum impulso à atividade, por causa das estripulias que fez nos últimos quatro anos.
Na avaliação de Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da TOV Corretora, veremos, neste ano, ao menos três trimestres consecutivos de queda do Produto Interno Bruto (PIB), algo sem precedentes em pelo menos um quarto de século. Se os cálculos dele estiverem corretos, a contração da atividade será de 2,2% em 2015, podendo cair mais 0,5% em 2016. Ele ressalta que o governo criou um ambiente tão hostil na economia, que, desde o primeiro trimestre de 2013, os investimentos produtivos só caem.
“Assisti, nas últimas semanas, à apresentação de pelo menos 40 empresas com ações negociadas em bolsa de valores. Somente duas disseram que não cortariam investimentos”, afirma. No entender dele, não é apenas o setor privado que está paralisado. Todo o setor público — União, estados e municípios — está à míngua, com receitas em queda, tendo que interromper obras. O Brasil simplesmente parou. “É por isso que o desemprego está em disparada. Não será surpresa se as taxas chegarem ao fim do ano em dois dígitos”, emenda.
Para Silveira, por mais que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, diga que o ajuste fiscal não está ajudando a afundar a economia, a incapacidade do governo de gastar empurra, sim, o PIB ladeira abaixo. “Hoje, simplesmente não existe o gastador de última instância. Os empresários não investem, o governo está cortando gastos e as famílias, reduzindo o consumo”, assinala.
Portanto, quando Levy diz que o país está vivendo uma “ressaca”, e que ela passará, está jogando para a plateia. O Brasil está doente e a doença foi provocada nos quatro primeiros anos do governo Dilma. Curar o país levará muito mais tempo do que se livrar de uma simples ressaca.
Fantasmas
Mesmo que Levy minimize a gravidade da situação, o mercado financeiro vai se apegar ao discurso dele com todas as forças. A visão é de que, ruim com o ministro, pior sem ele. Ao se manter no cargo, num governo fraco politicamente, Levy funciona como a garantia que haverá o mínimo de racionalidade na política econômica. Essa dependência do mercado é tamanha, que a maior parte dos analistas aceita, sem traumas, a redução da meta de superavit primário deste ano para algo entre 0,6% e 0,7% do PIB, metade do 1,2% prometido pelo ministro.
O que importa, na visão dos economistas privados, é que Dilma não volte a se cercar de pessoas com pensamento semelhante ao de Guido Mantega e Arno Augustin, que, na condição de ministro da Fazenda e de Secretário do Tesouro Nacional, respectivamente, recorreram a maquiagens e a truques fiscais para mostrar uma saúde que as contas públicas não tinham. Essas manobras, por sinal, são a maior ameaça ao mandato de Dilma segundo os estudos de analistas de peso. Se ela tiver as contas de 2014 rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), a oposição terá um forte argumento para pedir o impeachment.
Em meio à tempestade, a presidente tem procurado mostrar equilíbrio na condução do governo neste segundo mandato. Mas sabe que viverá um inferno. Não há só uma notícia boa no horizonte, por mais que o Palácio do Planalto tente criá-la. Não bastassem o desastre econômico e as sovas que o Congresso lhe tem imposto, há o risco de o lamaçal oriundo da corrupção na Petrobras engolfar de vez o governo.
A prisão de Marcelo Odebrecht, presidente da maior construtora do país, por meio da Operação Lava-Jato, tornou-se uma espada apontada para o coração da petista. Se ele resolver abrir a boca, Brasília vai ruir. Dilma tem a exata noção do tamanho do risco que corre. Mas, nesse caso, só lhe resta contar com a sorte, o que é muito pouco.
Morte nas estradas
» O país terá uma boa oportunidade para discutir, hoje e amanhã, em seminários no Rio Janeiro e em São Paulo, os custos dos acidentes de trânsito para a economia. Somente em 2012, foram 45,7 mil vítimas fatais, um óbito a cada 12 minutos. Com isso, o Produto Interno Bruto (PIB) perdeu R$ 62,4 bilhões. Dados mais recentes, da Universidade de Michigan (EUA), apontam o Brasil como o 42º país em mortes por colisões de trânsito em 2014.
Servidores se armam
» Os servidores públicos já se preparam para perturbar o governo ao longo do mês de julho. Eles receberam informações preliminares de que podem ficar sem qualquer reajuste em 2016, devido ao ajuste fiscal tocado por Joaquim Levy. Se nada mudar no horizonte, o Ministério do Planejamento começará a se reunir com todas as carreiras para mostrar como estão as contas públicas e o que a União pode oferecer.
Brasília, 00h01mi