O que o Banco Central fará com os juros?

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A inflação de fevereiro, de 0,33%, a menor para o mês desde 2000, mostra que o Banco Central está inseguro demais com suas projeções de inflação. Tanto que está cortando a taxa básica de juros (Selic) muito aquém do que poderia. Apesar do discurso de que está apressando o passo, o BC tem ficado atrás da curva. Os juros reais, que realmente importam para o setor produtivo, estão aumentando mês a mês e prejudicando a retomada do crescimento econômico.

O BC sabe que a inflação ficará muito baixa neste ano. Mas está envergonhado em assumir isso, pois perderia todos os argumentos que tem usado para manter os passos lentos no corte da Selic. Contrariando o histórico, a instituição não liberou, por exemplo, as suas projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no comunicado pós-reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em que os juros caíram 0,75 ponto percentual, para 12,25% ao ano.

Diante da grande gritaria do mercado, o BC liberou seu cenário de referência para a inflação na ata do Copom publicada logo depois do feriado de carnaval. A autoridade monetária disse que, pelos seus modelos, o IPCA deste ano será de 3,8% e o de 2018, de 3,3%. Certamente, frente a esses números, o BC poderia ter apressado o passo e cortado a Selic no mês passado em um ponto. Não o fez porque havia se imposto uma camisa de força. O presidente da instituição, Ilan Goldfajn, tinha dito, no fim de janeiro, que o ritmo de corte dos juros seria de 0,75 ponto.

Pelos cálculos dos especialistas, a inflação está pelo menos 1,25 ponto percentual abaixo do que apostava o BC para manter a redução dos juros em 0,75 ponto a cada reunião da Copom. Não por acaso, o mercado financeiro passou a ver como piso uma queda de um ponto nos juros em abril. É possível que, de posse dos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrando o IPCA em 4,76% em 12 meses, os operadores passem a pressionar o BC por um corte de 1,25 ponto ou mesmo de 1,5 ponto.

O IPCA de fevereiro, de 0,33%, ficou muito abaixo da média das projeções do mercado, que estava em 0,43%. Não fossem os reajustes do grupo educação, que responderam por 70% do IPCA, o resultado final seria muito menor. Mesmo o grupo educação, com alta de 5,04%, ficou abaixo das projeções dos especialistas. O resultado foi o menor para o mês desde 2010. Os grupos alimentação e de vestuário registraram, em fevereiro, deflação de 0,45% e de 0,13%, respectivamente.

Brasília, 09h30min

Vicente Nunes