O populismo de Temer

Compartilhe

O motivo principal de o governo Dilma Rousseff ruir foi o descompromisso com o ajuste fiscal. Apesar de todos os alertas, pisou fundo na gastança, acreditando na força do Estado em impulsionar a economia. Colheu o que todos estamos vendo: recessão, inflação alta, desemprego. Michel Temer, no discurso de posse como interino, enfatizou seu compromisso com o equilíbrio das contas públicas. Duas semanas depois, o que se vê é um Temer mais parecido com Dilma, com recaídas para o populismo.

É inaceitável que o presidente interino trate como natural a farra dos reajustes de servidores aprovados pela Câmara dos Deputados, uma fatura de R$ 58 bilhões em quatro anos. O discurso de que esse é um ato menor, que já estava previsto no Orçamento, que o compromisso com o ajuste fiscal está mantido, cheira à propaganda enganosa, cujos resultados são sempre ruins. Se realmente quisesse ajustar as contas, depois de anunciar uma meta com deficit de até R$ 170,5 bilhões neste ano, Temer deveria ser o primeiro a gritar contra os aumentos em cascata para o funcionalismo público (estados e municípios, que estão quebrados, também serão atingidos). Pelo contrário, deu aval imediato à loucura.

Nem mesmo o sempre sensato ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, se livrou da praga do populismo. Logo ele que, em entrevista ao Correio, disse que, para tirar o Brasil do atoleiro, todos teriam que dar sua cota de sacrifício, inclusive os servidores públicos. Agora, o ministro diz que não é bem assim, que é preciso olhar o todo do que está sendo feito feito pelo governo e não se apegar a um detalhe. Pois foi de detalhe em detalhe, de erro em erro, que Dilma quebrou o país.

Ninguém merece uma cópia piorada do governo Dilma. Temer e Meirelles devem manter a palavra. O Brasil não aguenta mais governos interessados apenas em obter apoio popular adotando medidas que, mais à frente, vão custar caro. Foi dado um voto de confiança ao governo provisório. Acreditou-se que uma mudança efetiva no trato das contas públicas estava a caminho. Por enquanto, o que vemos é um filme repetido. E da pior qualidade.

Brasília, 17h05min

Vicente Nunes