O fantasma fo TSE

Publicado em Economia

O governo tem feito um esforço enorme para reforçar a visão de que todo o nervosismo observado no mercado financeiro decorre das incertezas em torno da eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos. Mas integrantes do Palácio do Planalto reconhecem que os investidores andam com a pulga atrás da orelha, intrigados sobre decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em relação ao processo que apura possíveis irregularidade na chapa que elegeu Dilma Rousseff e Michel Temer.

 

Ainda que tanto no governo quanto nos mercados a maioria acredite que o TSE, sob o comando do ministro Gilmar Mendes, rejeitará o parecer do relator do processo, Herman Benjamin, propondo a cassação da chapa Dilma-Temer, o desconforto é grande, porque traz de volta as incertezas políticas que tanto mal fizeram ao país. Justamente por não verem um horizonte à frente com a petista no comando do Brasil, as empresas suspenderam os investimentos, a produção recuou, as vendas desabaram e as demissões se aceleraram. O resultado disso todo mundo sabe muito bem: a pior recessão econômica em pelo menos 100 anos.

 

A insegurança dos investidores aumenta por causa da iminente divulgação das delações premiadas da Odebrechet, a empreiteira que criou um departamento paralelo só para administrar o pagamento de propinas a agentes públicos. Não há dúvidas de que, à medida que as delações forem sendo divulgadas, figuras poderosas da República serão tragadas para o centro da Operação Lava-Jato, que desvendou o esquema de corrupção que devastou a Petrobras.

 

A dimensão das revelações da Odebrecht causa alvoroço entre os donos do dinheiro, que temem pela destruição do mundo político, abrindo brechas para aventureiros, como os que vêm ganhando espaço mundo afora, a começar por Trump. Para um ministro com amplo acesso ao Planalto, os tempos exigem serenidade. E não há por que especular sobre temas que são de responsabilidade única da Justiça. “O que o governo precisa mostrar neste momento é que está fazendo de tudo para tirar o país de uma severa recessão. Há mais de 12 milhões de desempregados que anseiam pela retomada econômica”, diz.

 

Convicção

 

A tendência, na avaliação dos especialistas, é que o nervosismo prevaleça nos próximos dias. A calmaria dos últimos dois meses, embalada pelo avanço, no Congresso, da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o aumento de gastos, não voltará tão cedo. Além de terremoto provocado pela eleição de Trump, há temas polêmicos entrando no radar dos investidores que atuam no Brasil.

 

O Planalto conta com o arsenal do Banco Central para acalmar os ânimos e recolocar os mercados na trilha da racionalidade. Não será tarefa fácil. A despeito da significativa intervenção da autoridade monetária no câmbio ontem, o dólar encerrou o dia encostado nos R$ 3,40, mais precisamente a R$ 3,392 para venda, com alta de 0,92%. É verdade que, ao longo da sexta-feira, o salto da moeda norte-americana foi muito maior. Mas a missão do BC ficou pela metade.

 

“Esperamos que o fim de semana sirva para que os investidores reflitam melhor sobre o Brasil. Em pouco tempo, o governo obteve vitórias importantes, a maior delas a aprovação em dois turnos da PEC dos gastos na Câmara. É possível que, até o início de dezembro, a PEC seja ratificada pelo Senado”, afirma um integrante da equipe econômica. Para ele, é importante que os mercados tenham a convicção de que, independentemente das turbulências provocadas pelos Estados Unidos, o Brasil está entrando nos trilhos e voltará a crescer. “Não vamos nos desviar desse rumo”, frisa.

 

Brasília, 06h27min