O encontro da economia com Bolsonaro: recessão, inflação, juros em alta, desemprego

Compartilhe

Dois técnicos muito conceituados da equipe econômica admitem que o presidente Jair Bolsonaro está cavando um grande buraco no qual vai afundar em breve. Será o encontro do presidente com a economia. A partir de agora, só notícias ruins estão por vir: inflação mais alta, juros subindo, recessão, com queda do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro e no segundo trimestres, além de mais desemprego e confiança dos consumidores em baixa.

Na visão desses técnicos, tudo ficaria mais fácil se o presidente descesse do palanque de 2022 e jogasse seu negacionismo fora. Apoiasse a vacinação em massa da população e pregasse a conciliação do país. Com isso, minimizaria os impactos da pandemia do novo coronavírus no sistema de saúde e na economia. Mais: sustentaria um ambiente de confiança no qual, mesmo com todas as dificuldades trazidas pela crise sanitária, os investimentos produtivos voltariam com força. O resultado seria mais emprego e renda.

Como nada disso vai acontecer, os dois técnicos, que não escondem a decepção com o ministro Paulo Guedes, dizem que uma tempestade perfeita está pronta para abater o país e engolfar o presidente da República. No quadro mais sombrio traçado por eles, a inflação encerrará o ano acima de 6%, o Banco Central terá de levar os juros a pelo menos 7%, dos atuais 2% ao ano, e o dólar passará de R$ 6, com forte fuga de capitais do país. O mais assustador, no entanto, é a possibilidade de o Brasil registar média diária de 2 mil mortos pela covid já em março.

Fugindo da responsabilidade

Bolsonaro, como sempre, vai tentar empurrar a culpa desse desastre anunciado para prefeitos e governadores, que vêm adotando medidas mais restritivas para conter a disseminação do novo coronavírus. Vai pagar mais quatro parcelas do auxílio emergencial, cada uma de R$ 250, mas, no entender dos técnicos, dificilmente isso aplacará o mau-humor da maioria da população em relação ao governo. A popularidade do presidente despencará novamente.

Para os técnicos da equipe econômica, o entorno de Bolsonaro dirá que o quadro econômico desfavorável passará logo e que, quando 2022 chegar, o presidente será carregado no colo rumo à reeleição. O problema é que todas as pontes para restabelecer os sinais vitais da economia estarão em escombros. Será difícil falar em crescimento superior a 2% mesmo sobre uma base muito baixa.

“Enfim, por total falta de bom senso, o presidente está destruindo boa parte das chances de permanecer mais quatro anos no Palácio do Planalto. Está empurrando a economia contra ele”, diz um dos técnicos. “Hoje, Bolsonaro pode até ser o favorito para as eleições de 2022. Mas nenhum candidato pode ter a economia como principal adversário. E o presidente está criando um monstro”, acrescenta o outro.

Brasília, 16h0min

Vicente Nunes