O embate de Meirelles para fazer seu sucessor na Fazenda

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ANTONIO TEMÓTEO E HAMILTON FERRARI

Sem ainda ter emplacado a candidatura ao Palácio do Planalto, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, está no meio de um embate para escolher quem o sucederá no comando da equipe econômica. Meirelles é favorável à nomeação do secretário executivo da pasta, Eduardo Guardia, mas enfrenta oposição do líder do governo no Congresso Nacional, senador Romero Jucá (MDB-RR), que defende o nome do ministro da Planejamento, Dyogo Oliveira, para ocupar o posto.

Interlocutores de Meirelles minimizam as barreiras à sua candidatura e à queda de braço com Jucá. Um deles detalhou que seria natural o ministro ter a prerrogativa de escolher alguém da própria equipe para substituí-lo. “A lógica é a de que ele deixasse o cargo para o secretário executivo. Jucá pode ter interesse, mas, no fim, quem decide é o presidente Michel Temer”, afirma um assessor presidencial.

Na Fazenda, entretanto, o movimento de troca de comando é considerado precipitado, porque Meirelles ainda não definiu se vai disputar a Presidência. Em entrevistas, ele diz que pode concorrer, mas ainda não tem partido. O seu PSD está fechado com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. A estrutura para a campanha de Meirelles está pronta. Ele já gastou mais de R$ 2 milhões para montar sua equipe.

Jucá é um dos que mais jogam contra a candidatura de Meirelles. E está no grupo dos que têm protagonizado embates com o ministro. Em diversas oportunidades, o senador se antecipou a Meirelles e anunciou medidas econômicas. Na semana passada, Jucá afirmou que Dyogo é o melhor nome para chefiar a equipe econômica caso Meirelles deixe o posto.

Oliveira caiu nas graças de Temer após sugerir os saques de contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do PIS/Pasep. Discreto, o chefe do Planejamento tem evitado os holofotes e orientou os auxiliares mais próximos a não comentarem a possibilidade de ele ir para a Fazenda.

O sonho de Meirelles de ocupar o Planalto em 2019 ganha novos obstáculos a cada semana. Bem visto pelo mercado financeiro, empresários e investidores, ele encontra resistências no meio político para ser aclamado como o candidato de centro que continuaria a executar a agenda de reformas e ajustes necessários para colocar a economia nos trilhos.

As principais oposições ao ministro partem do próprio partido, o PSD, integrante da base do governo, que analisa as chances de o presidente Michel Temer concorrer à reeleição, e do PSDB, que busca o apoio do chefe do Executivo para disputar o pleito.

Reações

De olho nos movimentos que tentam barrar sua candidatura, Meirelles afirma que, “se o PSD decidir fechar questão em São Paulo, certamente há convites de outros partidos”. Ele não especifica, porém, as agremiações que o procuraram. As declarações são uma reação às costuras políticas do presidente do PSD, o ministro de Ciência, Tecnologia e Comunicações, Gilberto Kassab, que negocia uma vaga de vice na provável chapa liderada por João Doria (PSDB) ao governo de São Paulo. Em troca, o PSD apoiaria a candidatura do atual governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência da República.

Após as declarações do correligionário, Kassab elogiou o ministro da Fazenda, mas indicou que ele pode ficar fora do páreo. “No momento certo, o ministro ou o partido vai definir se um candidato nosso, pelas circunstâncias, não por suas qualidades, é adequado para disputar as eleições, ou se iremos partir para uma coligação. Vamos aguardar mais alguns dias”, afirma.

Em reunião com o presidente Temer no fim de semana, Meirelles ouviu que precisa melhorar o desempenho nas pesquisas até abril se quiser ser aclamado como candidato do MDB ao Planalto. Durante o encontro, o presidente disse que não pretende ser candidato, mas que seria necessário angariar o apoio dos caciques do partido, entre eles o senador Romero Jucá, para disputar a corrida eleitoral.

Outro interlocutor de Temer ressalta que o ministro terá que definir se vai sair do ministério e se vai mudar de sigla até 7 de abril. O prazo está cada vez mais apertado, mas nem o PSD nem o MDB demonstram entusiasmo pelo nome. Na noite de domingo, por meio das redes sociais, Meirelles reforçou a intenção de ser candidato. Na postagem, lembrou que foi presidente mundial de um banco presente em 32 países. “Tinha atingido o máximo na carreira, mas pensei: o que estou fazendo aqui? Eu estudei em colégio público no Brasil. Está na hora de devolver ao povo brasileiro um pouco de tudo aquilo que ele me proporcionou”, afirmou.

As dúvidas quanto à candidatura do ministro do Fazenda vão além das disputas políticas. Muitos avaliam que falta a ele carisma e facilidade de interlocução com o povo. Na avaliação do cientista político Cristiano Noronha, da Arko Advice, o ministro não consegue assumir uma bandeira efetivamente positiva. “Se ele deixar o Ministério da Fazenda agora, parece que não terá muitos elementos favoráveis para alavancar a candidatura. Não há nenhuma agenda grandiosa que ele esteja conduzindo”, diz.

Fora isso, o Palácio do Planalto não vê, em Meirelles, o nome que vai cativar a sociedade. Parlamentares do PSD também afirmam que ele não têm as condições necessárias para ser um candidato competitivo. “Não há dúvidas no governo de que ele tem amplo apoio do mercado, mas o discurso ainda é muito econômico, o que não agrada aos eleitores”, afirma um colega de ministério.

Brasília, 07h23min

Vicente Nunes