Moro articula pacote anticrime e Câmara pode votar projeto ainda hoje

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RODOLFO COSTA

A Câmara está disposta a votar o pacote anticrime do governo federal, em uma votação que pode ocorrer ainda nesta quarta-feira (4/11), depois de ter aprovado o requerimento de urgência capitaneado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Mas o grande articulador da matéria foi o próprio ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, autor da proposta.

O ministro passou a tarde na Câmara, em uma extensa romaria a lideranças de partidos de centro na Casa, em reuniões não inclusas na agenda oficial da pasta. Com gestos e uma postura humilde, conseguiu convencer os parlamentares a votarem o texto — se não hoje — até a próxima semana, ainda que o governo esteja devendo a liberação de recursos para o pagamento de emendas parlamentares não impositivas.

A líderes, vice-líderes e demais parlamentares, Moro disse que respeita as alterações feitas pela Câmara e frisou não ser o dono da verdade. As palavras colocaram bem com os parlamentares, que reconheceram o aceno humilde feito pelo ministro. Moro, contudo, barganhou alterações ao texto. Sugeriu a devolução do “espião policial”, modelo de investigação existente nos Estados Unidos.

O “espião” foi retirado do pacote anticrime na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), mas, a pedido de Moro, lideranças de centro deram sinal positivo para resgatar o modelo investigativo. O ministro pediu a regulamentação do policial infiltrado em organizações criminosas para investigação de lavagem de dinheiro, além de compra e venda de drogas e armas de fogo.

Negociação

O ministro tentou emplacar a figura do “espião” para casos mais amplos de lavagem de dinheiro, a fim de identificar crimes, inclusive, em empresas. A proposta não foi bem aceita por lideranças, entre elas o líder do DEM na Câmara, Elmar Nascimento (BA), sob pretexto de ceder a infiltração a partir do pressuposto de suspeitas inconcretas. A ideia do policial infiltrado em organizações tipificadamente criminosas, como quadrilhas especializadas em tráfico e células terroristas, foi mais aceita.

Em troca, os deputados pediram para que o ministro admita publicamente que o texto votado na Câmara é o mais próximo do ideal almejado por ele. A demanda, sugerida na liderança do DEM, foi bem aceita, afirmou o deputado Luis Miranda (DF). “Ele disse: ‘Se me atenderem, será o maior prazer em divulgar que o projeto atende o anseio da sociedade no combate à criminalidade’. Agora, estamos construindo o consenso”, afirmou ao Blog.

Vicente Nunes