Moreira comanda comunicação que tenta reduzir estrago que ele causou

Publicado em Economia

Responsável pela atual crise do governo, Moreira Franco está no comando da estratégia de comunicação do Palácio do Planalto para tentar criar fatos positivos que minimizem o estrago provocado pela decisão do presidente Michel Temer de nomeá-lo ministro. Ontem, mesmo impedido pela Justiça de ocupar o cargo — as liminares que anulavam a nomeação só caíram no fim da tarde —, Moreira liderou reunião com sua equipe, na qual, segundo um dos participantes, foi constatado que o governo precisa amplificar, ao máximo possível, as boas notícias na economia, que podem ajudar Temer a sair da linha de tiro.

 

A determinação é que o Planalto faça uma “verdadeira pregação” sobre a recuperação da atividade. O governo está certo de que o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre do ano será positivo, encerrando o ciclo recessivo mais profundo que o país enfrentou em sua história. O Planalto quer convencer que o fim da recessão foi possível graças à política econômica responsável que vem sendo conduzida pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Ao resgatar a confiança dos investidores, as expectativas de inflação começaram a cair, o que permitiu ao Banco Central dar início ao processo de redução da taxa básica de juros (Selic), que está em 13% ao ano.

 

Há muitas queixas dentro do governo diante das dificuldades do Planalto para criar uma agenda positiva. Quando se consegue algum respiro, vem uma bomba da política que acaba ofuscando fatos que poderiam ajudar a melhorar a imagem do país, ainda muito malvisto pelas agências de classificação de risco. A grande sorte do governo é que o mercado financeiro resolveu dar todos os votos de confiança a Temer e está fechando os olhos para a crise política que alucina Brasília.

 

Como lembra um importante operador, um dos mais próximos ministros do presidente virou o centro de uma guerra de liminares e os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Eunício Oliveira, aliados importantes do governo para aprovação das reformas da Previdência e trabalhista, estão entre os alvos da Lava-Jato. “Em outros momentos, o mercado estaria em polvorosa. Mas há um desejo claro de que o governo dê certo”, ressalta.

 

Desejo e realidade

 

Não por acaso, os dois maiores bancos privados do país vêm divulgando seguidos relatórios positivos em relação à economia. Ontem, Itaú Unibanco e Bradesco revisaram, para baixo, as estimativas de inflação. Para o Bradesco, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechará este ano em 4,2%, abaixo, portanto, do centro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,5%. O Itaú, por sua vez, projeta inflação de 4,4% para 2017 e de 3,8% para o ano que vem. Com isso, o BC poderá reduzir os juros para até 9,25% em dezembro próximo e para 8,25% em 2018.

 

A perspectiva de integrantes do Planalto é de que o BC se anime com tais projeções, e acelere o corte da Selic. Há uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) marcada para 21 e 22 deste mês, na qual se espera que a taxa básica caia um ponto percentual, para 12% ao ano. “O BC não pode se manter muito atrás da curva. A inflação oficial tem ficado, sistematicamente, abaixo das projeções do mercado. Quer dizer: todo mundo está errando nas estimativas. Então, o BC pode se arriscar a errar cortando os juros mais rapidamente”, frisa um técnico.

 

Além da queda mais forte dos juros, o Planalto conta com a liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) — uma montanha de R$ 34 bilhões — para mudar um pouco a percepção negativa do governo. “Com tanto desemprego e dívidas atrasadas, os trabalhadores vão se preocupar muito mais em ter acesso às contas inativas do FGTS do que em saber se este ou aquele ministro ficou sem foro privilegiado. É nisso que estamos apostando”, ressalta um importante aliado de Temer. “Não se trata de torcer pela alienação das pessoas, mas, com certeza, um alívio no bolso terá mais peso do que o noticiário sobre Moreira Franco”, acredita.

 

A grande preocupação é de que o próprio governo não se torne um problema. Os últimos dias deram munição de sobra para que os críticos de Temer enchessem o peito para vociferar. “Está na hora de pararmos de criar confusão. Temos bons números nas mãos para comprovarmos que o país está entrando nos eixos”, diz um ministro da cota do PMDB. “Quanto mais criarmos fatos positivos na economia, mais nos blindaremos para enfrentar a delação do fim do mundo da Odebrecht”, ressalta. Entre desejo e realidade, porém, há uma distância enorme. Que isso fique bem claro.

 

Brasília, 10h32min