Nas mãos de Ilan

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O presidente Michel Temer voltou do recesso de fim de ano convencido de que o Banco Central lhe entregará um presentão na próxima semana: um corte mais forte na taxa básica de juros (Selic). Ainda que trate sobre esse tema com muito cuidado e com pouquíssimos assessores, ele acredita que a diretoria do BC tomou coragem para avançar o passo na política monetária, de forma a garantir um primeiro semestre de 2017 um pouco mais promissor do que têm apontado as estimativas. Para Temer, uma redução de 0,75 ponto percentual na Selic, que está em 13,75% ao ano, será mais do que providencial.

No Palácio do Planalto, a visão é de que tudo o que o Comitê de Política Monetária (Copom) vinha ressaltando em seus documentos como essencial para uma baixa mais significativa dos juros se confirmou. A inflação corrente está em queda livre, as expetativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estão praticamente ancoradas no centro da meta, de 4,5%, e o dólar mostra fragilidade. Não é só, ressalta um assessor de Temer. “Estamos avançando muito nas reformas. O Brasil, por sinal, é o único dos grandes países que está caminhando em direção a mudanças estruturais neste momento”, diz.

A torcida do Planalto por juros mais baixos é clara, mas cautelosa. “Não há por que colocar o BC em uma situação desconfortável. Por mais ansiosos que estejamos para que a Selic caia rápido a fim de ajudar o país a sair logo da recessão, não podemos dar munição para enfraquecer o presidente da instituição, Ilan Goldfajn”, explica um ministro. “Se ele errou ao adiar o processo de baixa dos juros, o tempo dirá. Mas, agora, não podemos estimular a tensão pré-Copom. É um erro”, emenda. O importante, acrescenta ele, é que a Selic feche este ano em um dígito, abaixo de 10%. “Será um feito.”

Fora da caixinha

No mercado financeiro, 76% dos investidores apostam que o BC manterá o conservadorismo e, no máximo, cortará a Selic em 0,5 ponto. Essa posição é baseada no histórico da atual diretoria da autoridade monetária. Em nenhum momento, desde que tomou posse, Ilan e companhia deram um passo que lembrasse ousadia. Não será agora, portanto, na visão desse grupo, que eles “vão sair da caixinha”. Se isso acontecer, será uma surpresa e tanto, que pode levar a uma reavaliação da política de juros. “Espaço para uma redução mais acentuada da Selic há. Só que, no meio do caminho, tem o conservadorismo de Ilan”, ressalta um importante investidor, que anda decepcionado com o BC.

Para o Planalto, é natural que os investidores queiram juros elevados por um tempo mais longo. Por isso, vão encontrar razões de sobra para convencer o BC de que o momento não comporta estripulias. “Todos sabem, porém, o quanto é importante que os juros caiam logo. O país não aguenta mais a recessão”, afirma um técnico da equipe econômica. Ele ressalta que ninguém espera uma revolução na economia, um crescimento acelerado com a queda de 0,75 ponto da Selic. “Os juros menores terão, agora, mais efeito psicológico do que prático. Contudo, à frente, darão um gás importante à atividade.”

O mesmo técnico ressalta: “A queda mais rápida dos juros fará bem para todos. Não custa lembrar que o país está quebrado, a União, de joelhos, e estados e municípios, em grande maioria, falidos. Também empresas e famílias sofrem com dívidas pesadíssimas. Sendo assim, o BC deveria dar sua cota de contribuição”. Resta saber até onde vai o entendimento da autoridade monetária em relação à real situação da economia. Pelos últimos posicionamentos oficiais da instituição, o que se viu foi uma defasagem enorme no discurso. Mas sempre é tempo de acertar o passo.

Brasília, 06h05min

Vicente Nunes