Meta de inflação de 2019 deve ser de 4%, diz Volpon

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O governo anuncia hoje a meta de inflação a ser perseguida pelo Banco Central em 2019, e tudo indica que haverá redução dos atuais 4,5% para 4,25%. Apesar de muita gente do governo ver essa medida como perigosa, pois pode colocar uma camisa de força na política de juros, o economista-chefe do banco suíço UBS, Tony Volpon, diz que o mais correto seria a meta cair para 4%, como forma de quebrar de vez a espinha dorsal da inflação.

Na opinião de Volpon, o país nunca teve um momento tão oportuno para estabelecer um novo piso para o custo de vida, que tende a se situar, nos próximos anos, entre 3,5% e 4%. “A recessão profunda, a forte queda dos preços dos alimentos, o fim do choque das tarifas públicas e a recuperação da credibilidade do BC provocaram uma mudança profunda na estrutura inflacionária. Veremos índices muito bem-comportados nos próximos anos”, acredita.

Para ele, se o governo optar por fixar a meta de inflação de 2019 em 4,25%, não será de todo ruim. Mas o ideal seria ter um pouco mais de ousadia. “O importante é dar um primeiro passo. Fazer as coisas quando se pode e não quando se quer”, assinala. No entender do economista, será um grande erro se a equipe econômica fraquejar e manter a meta em 4,5%, pois, no outro dia, todas as estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) tenderão a subir.

“Será uma estupidez manter a meta de inflação em 4,5%. O governo precisa dar uma direção aos agentes econômicos de que o compromisso com o combate à carestia é para valer”, destaca Volpon. As expectativas para o IPCA deste ano estão abaixo de 4%. Em relação a 2018, a aposta é de uma taxa próxima de 4%, assim como em 2019. “Portanto, o momento é este. Não precisamos esperar a aprovação das reformas para nos comprometermos com inflação cada vez menor”, emenda.

Crise política

É o compromisso com a manutenção do custo de vida em torno de 4% que faz o economista do UBS apostar na ousadia do Banco Central em relação à taxa básica de juros (Selic). Independentemente do agravamento da crise política, com a denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente Michel Temer, ele aposta que o Comitê de Política Monetária (Copom) cortará a Selic em um ponto percentual em julho, para 9,25% ao ano.

“A nossa perspectiva é de que os juros caiam até 7,5% de forma sustentada”, diz Volpon. Ele, porém, não fixa um prazo. “Não sei dizer se essa taxa será alcançada neste ano ou em meados de 2018. O que eu posso garantir é que o BC terá espaço para testar um novo piso para os juros numa situação muito melhor do que a observada em 2012, quando a Selic chegou a 7,25%”, ressalta. Esse quadro, complementa, só se tornará inviável se o mercado financeiro surtar, o que ele não acredita.

No entender do economista do UBS, os investidores estão cautelosos, mas não em pânico. No cenário base com o qual a maioria do mercado trabalha, Temer conseguirá encerrar o mandato, aprovará a reforma trabalhista e, na melhor das hipóteses, conseguirá apoio para uma proposta bastante desidratada de reforma da Previdência Social. Essa visão é defendida, principalmente, pelos investidores estrangeiros, que se dispuseram a correr riscos no Brasil em troca de um excelente retorno.

“É essa perspectiva que faz com que o dólar continue girando em torno de R$ 3,30 e não de R$ 3,80. Se a moeda norte-americana tivesse atingido esse patamar, certamente o Brasil estaria mergulhado de novo na recessão”, destaca Volpon. Mais otimista que a média dos analistas, o economista, que foi diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central no governo de Dilma Rousseff, prevê crescimento de 0,9% para o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e avanço de 2,3% em 2018.

Brasília, 00h48min

Vicente Nunes