ROSANA HESSEL
Havia uma preocupação do governo de que o dólar mais barato pudesse incrementar as importações, reduzindo o saldo da balança comercial. Mas, segundo a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), isso não acontecerá. Por uma razão simples: não há demanda por importados, devido à grave recessão na qual o Brasil está mergulhado.
Diante desse quadro, a AEB revisou os números da balança comercial de 2016. A perspectiva é de que as importações tombem 18% ante 2015, praticamente o dobro da estimativa anterior, de 9,5%. Isso acontecerá mesmo com o dólar se situando em torno dos R$ 3,20. Com isso, a previsão de superavit na balança para este ano saltou de R$ 29,2 bilhões para R$ 46,9 bilhões.
“Também as exportações cairão”, diz o presidente da AEB, José Augusto de Castro. “Mas haverá saldo expressivo na balança porque as importações terão redução muito maior”, acrescenta. Segundo ele, na melhor das hipóteses, as exportações repetirão os resultados de 2015. “Pelos nossos cálculos, os embarques de mercadorias para o exterior recuarão 1,9%”, acrescenta.
Na avaliação de Castro, as exportações só não estão piores porque a Argentina vem se recuperando e puxando as compras de carros brasileiros e ajudando no aumento dos embarques de manufaturados. Ele calcula que as vendas de manufaturados crescerão 5% frente a 2015, para R$ 75 bilhões, mas esse será o menor montante desde 2006. “Tivemos um retrocesso de 10 anos nas exportações de manufaturados, e vai ser difícil recuperar mercado”, assinala.
O presidente da AEB é enfático quanto às dificuldades enfrentadas pelas empresas para exportar. “Se o governo não tem condições de investir, precisa estabelecer regras que permitam que o setor privado invista. A nova lei dos portos, que entrou em vigor em 2013, afugentou o capital. Se não houver reformas estruturais, como a tributária e a trabalhista, e obras de infraestrutura, o país não conseguirá ser competitivo. Não dá mais para empurrar com a barriga”, enfatiza.
Em 2015, as exportações brasileiras somaram R$ 189,4 bilhões e as importações, R$ 173,7 bilhões, resultando em um superavit comercial de R$ 15,7 bilhões.
Brasília, 16h25min