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Mercado tenta dar uma respirada, mas fica de olho no teto e na decisão do Copom

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

Após acumular R$ 350 bilhões em perdas na semana passada, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) abre a semana em clima de expectativa pela reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, e pelas próximas declarações do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes, cada vez mais desacreditado por admitir o rompimento do teto de gastos — emenda constitucional que limita o aumento das despesas pela inflação do ano anterior — na última sexta-feira (22).

 

O Índice Bovespa, principal indicador da B3, abriu o pregão desta segunda-feira (25/10) andando de lado. Chegou a ganhar impulso após 30 minutos de negociação, subindo 1,47%, chegando a 107,8 mil pontos mas perdia força poucos minutos depois. O dólar recuava 0,57% às 10h31, sendo cotado a R$ 5,613 para a venda.

 

De acordo com analistas, a expectativa para o comportamento dos mercados nesta semana está em torno da polêmica em torno do teto de gastos e da reunião do Copom, que ocorre amanhã e na quarta-feira (27). “O mercado está tentando dar uma respirada depois do apoio do presidente ao ministro Paulo Guedes no fim de semana. Mas a minha visão é que o saldo da semana ainda vai estar conectado ao Copom”, disse Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

 

“O Copom é um dos dos protagonistas da semana. Como o Boletim Focus, do Banco Central, acabou de apontar que as gestoras e os bancos estão refazendo suas projeções para a Selic (taxa básica da economia). Há duas semanas o consenso do mercado era de duas altas de um ponto 1,0 ponto percentual (em cada reunião) sem nenhuma dúvida, mas, agora, as expectativas (de alta da Selic) chegam até 2,0 pontos percentuais na quarta feira. É uma mudança brusca, e isso reprecifica muitos ativos do mercado financeiro”, explicou Cruz.  Para ele, em relação ao teto de gastos, o mercado já deu seu posicionamento após a forte queda da B3, na semana passada, e a valorização do dólar, também refletiu a insatisfação dos agentes financeiros. Resta saber se o governo manterá a contradição entre o discurso e a prática.

 

O estrategista lembrou que, em qualquer um dos casos, as chances de novas quedas na B3 são grandes, pois, se o Copom elevar a Selic acima de 1,5 ponto percentual, as ações da B3 podem recuar porque precisarão ser descontadas. E, se o BC elevar a Selic novamente em 1,0 ponto percentual, como vem fazendo nas últimas reuniões, ou 1,25 p.p. e mantém um discurso ameno, “o mercado vai argumentar que os fundamentos vão descarrilhar”. “Não achava que teríamos inflação de dois dígitos tão cedo. Mas tudo se desenha para um 2022 com taxas nesses níveis”, alertou Cruz.

 

Apesar de o boletim Focus ter elevado pela  29ª semana consecutiva as projeções da inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), passando de 8,68% para 8,98%, analistas reconhecem que o indicador do custo de vida poderá encerrar dezembro com taxa de dois dígitos. Além disso, as previsões para o IPCA de 2022 também estão sendo revisadas para cima e já estão acima do centro da meta, de 3,5% ao ano. Passou de 4,18%, na semana passada, para 4,40%, nesta semana. Alguns especialistas também não descartam a possibilidade de a inflação do ano que vem também romper o teto da meta, de 5%, pois já há previsões para o indicador acima desse patamar.

 

Pelas novas projeções do Focus, o mercado passou a prever um crescimento do PIB abaixo de 5%. A mediana das estimativas para o crescimento econômico deste ano passou de 5,01,%, no boletim da semana passada, para 4,97%, no desta semana. Já a mediana para a expansão do PIB no ano que vem foi revisada de 1,50% para 1,40%.

 

Apesar do discurso do comprometimento com as regras fiscais do presidente e do ministro da Economia, operadores estão de olho em como o governo vai negociar com o Centrão o auxílio de R$ 400, que foi anunciado com fins eleitoreiros por Bolsonaro, que tem a popularidade cada vez mais deteriorada. Pesquisa de opinião Modalmais/AP Exata divulgada na sexta-feira (22), informou que a avaliação ruim e péssimo de Bolsonaro chegou a 51,4%, leve alta em relação a anterior, de agosto, de 51,3%. Já o percentual que avalia a gestão do governo bom ou ótimo manteve-se em 24,1%.